Você que nada e compete: É preciso estar atualizado quanto às regras oficiais de natação. Por mais que as regras "ditem" o que deve ser obedecido, vez por outra acontecem situações inesperadas, situações não-previstas, de modo que trocar experiência com um árbitro nos dá mais segurança sobre como determinar as atitudes dos atletas durante uma competição.
Por vezes, se veem pais reclamando por que seu(sua) filho(a) com menos de 12 anos havia sido desclassificado, ou no estadual ou nas escolinhas. Olhando para a criança em si, considerando sua fase de crescimento e primeiras experiências de competição, seria até compreensível determinadas atitudes em prol do "bom senso". No entanto, o que não se percebe quando se tenta apelar para o "bom senso" é a importância da educação justamente nesta fase preponderante.
Saber que regras devem ser obedecidas com rigor não se limita à posição em cima do bloco de partida, ao toque na borda ou à transição de revezamento. Vai muito além disso. São experiências próprias de um ambiente de competição que se projetam para um futuro determinante para aquelas crianças em formação. Nem todo "sim" faz parte do processo educativo, se não for dada importância a certos "não".
Quando um atleta, por menor que seja sua idade, é inscrito numa competição oficial, subentendem-se que seu técnico (ou professor) seja um profissional capacitado a tal ponto, que assuma a responsabilidade tanto pelo comportamento daquele atleta, quanto pelos movimentos ensinados nos treinamentos. Se o garoto se treme em cima do bloco devido sua primeira experiência de competição, é ali no curso de arbitragem que os árbitros são treinados a analisar e aplicar o devido "bom senso" em situações como essa. No entanto, se sobe na raia no meio do percurso da prova ou atrapalha o colega na transição do revezamento, é difícil aplicar o "bom senso", quando seu técnico devia ter explicado as regras bem antes daquela competição.
Importância para os atletas
O que se disse sobre crianças em formação, aplica-se com muito mais rigor a todos os outros atletas. Não é que a arbitragem seria o tipo de "policial" esperando que o atleta cometa "um crime", não é isso. É que as regras são condição preponderante para a classificação numa prova de competição de natação. E sendo assim, o trabalho da arbitragem é "proteger o atleta que cumpre à regra".
Lá na década de 1990, não tínhamos disponível facilmente as regras oficiais de natação (não havia internet assim como hoje). Uma vez, o técnico chegou pra explicar algo numa tomada de tempo, foi quando alguns colegas de equipe perguntaram como fazer viradas de peito ou borboleta, se após o toque com as duas mãos, uma vinha por baixo e outra por cima, pra aproveitar o mesmo movimento de virada (...). Recordo que tivemos que ver um vídeo explicativo, porque a regra que se dispunha estava toda em inglês original.
Hoje, temos as versões original e traduzida disponíveis a partir das principais entidades da natação nacional e mundial. E alguém poderia questionar: Por que ainda tem tantas desclassificações em competições oficiais? Eis a questão. Porque a resposta não se completa, por mais que a arbitragem esteja capacitada. Quem sabe a resposta se complete quando não se treina as regras durante os próprios treinamentos?
Por mais que aquele técnico tenha "ouvido falar" como se executa uma virada dentro da regra, combinada com a técnica adequada pra não perder tempo, se o atleta não treinar isso todos os dias, não fica "automático". Com isso, ele joga fora bem mais energia e atenção durante uma virada do que seu adversário. Enquanto isso, seu adversário está bem mais treinado e aquela energia gasta, ele joga durante a prova, porque aquela virada está no "automático". O que se diz de uma virada, se diz de todos os outros detalhes que combinam técnica e regra oficial.
Vale lembrar que o texto das regras oficiais não é suficiente para aplicação das regras, é apenas base. Nesse sentido, ainda juntando a importância de combinar técnica e regras, torna-se mais que importante que os técnicos e professores de natação não se detenham no texto disponível na web, mas compreendam a importância da troca de experiência com a arbitragem em ocasiões como num curso específico.
Porque apesar de ser dada importância ao título "curso de arbitragem de natação", por traz disso existe toda uma discussão minuciosa de como são aplicadas as regras, de como é feita sua interpretação e de como se estendem os limites da arbitragem como "juízes" de competição. É nesse sentido que seria mais que necessário tanto técnicos quanto atletas presenciarem as exposições e discussões das regras, esclarecendo minúcias que às vezes são tão necessárias e evitariam tantos desgastes.
A prova, a regra e a arbitragem
Considere os 400 m Medley, a prova mais desafiadora da natação e que vai exigir minúcias das regras dos estilos combinados à prova. Nadar por nadar, qualquer um podia completar a prova em 10 minutos, por exemplo. Mas a competição não pede que você apenas complete a prova, se não for desafiado a fazer o melhor tempo e a tocar na frente dos outros. Sua atenção desde a largada está no toque final para brigar por uma medalha. Se um detalhe técnico passar despercebido, já era: ou seu adversário passa na frente ou você será desclassificado...
No entanto, não se vê nadadores de medley treinando 600 metros por dia por aí. Você conhece algum? No mínimo, séries com volume de 2.000 metros só em troca de estilos (...). Daí, um atleta passa toda uma temporada treinando mais de 8 mil metros por dia, para chegar numa competição e encarar os 400 m Medley. E na última parcial, numa sutileza despercebida, ele toca com uma mão apoiada na borda durante a transição do peito pro livre, enquanto a outra mão ele treinou pra vir por baixo e disfarça, na frente do árbitro, que havia simulado o toque. Resultado: Todo um trabalho jogado fora por uma besteira, um detalhe sutil que a arbitragem percebeu.
Lá na competição, o público em geral vê o campeão vencer ou até bater o recorde. Na arbitragem, vê-se aquele que cumpriu às regras, aquele que soube se desafiar a vencer dentro das regras. Porque é aí que sua medalha brilha com mais intensidade, quando se vence dentro das regras.
Foto: Franklin Rodrigues |
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