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Por que a 1ª medalha de ouro de uma nadadora negra foi tão importante

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"Recordes são feitos para serem quebrados", diz um dos mais conhecidos clichês do esporte – e isso ocorreu o tempo conquistado pela nadadora Simone Manuel na final dos 100 m Livre das Olimpíadas do Rio 2016. Mas seu outro feito inédito não será superado.


Manuel tornou-se a primeira nadadora negra a conquistar uma medalha de ouro em toda a história dos Jogos Olímpicos. E disse esperar que sua vitória leve a uma maior diversidade no esporte.

"Essa medalha não é só para mim, mas para todos os afro-americanos que vieram antes e serviram de inspiração", afirmou. "Espero inspirar outras pessoas. A medalha é para quem vier depois de mim no esporte."

Entenda por que o ouro de Simone Manuel é tão significativo
As piscinas foram um território proibido para negros americanos por gerações. As piscinas são há muito tempo um ponto especialmente sensível da questão racial nos Estados Unidos.

Afro-americanos não podiam entrar nelas quando a segregação ainda era praticada, e, mesmo depois de ela ser abolida, brancos encontraram outras formas de mantê-los excluídos. Construir piscinas em áreas de população predominantemente negra, por exemplo, não tem sido uma prioridade.

Jeff Wiltse, no seu livro "Águas Contestadas: a História Social das Piscinas na América", argumenta que o incômodo dos brancos ao entrar em contato com negros levou a essa lacuna histórica na integração racial das piscinas americanas.

Pais que não nadam não costumam iniciar seus filhos no esporte, e o legado atual disso é um número desproporcional de crianças negras que não sabem nadar – a federação americana de natação estima o índice em 70%. Ter aulas de natação não é obrigatório nos Estados Unidos, algo que a federação quer mudar.

Mas, apesar de tudo isso, exceções podem surgir. Por exemplo: a mãe de Cullen Jones, o primeiro negro a ser detentor de um recorde mundial de natação e medalhista de ouro nos Jogos de Pequim 2008, levou o atleta para ter suas primeiras aulas, após ele quase se afogar em um parque de diversões quando tinha 05 anos. Aos 08, ele já competia. Em 2008, fez parte da equipe americana que venceu a final dos 4x100 m Livre Masculino.

Levou um longo tempo para chegarmos até o ponto atual
Ainda hoje, ver um negro vencer uma prova de natação é algo raro, raríssimo. O holandês Enith Brigitha tornou-se o primeiro nadador negro a conquistar uma medalha olímpica ao chegar em 3º nos 100 m Livre em Montreal 1976, perdendo para dois atletas que depois foram flagrados em exames antidoping, segundo o Hall Internacional da Fama da Natação.

O próximo feito viria só em 1988, nos Jogos de Seul, quando Anthony Nesty, nascido em Trindade e Tobago com nacionalidade do Suriname, tornou-se o primeiro homem descendente de africanos a ganhar o ouro na natação olímpica.

Um rol bem pequeno de negros já representou os Estados Unidos: em Atenas 2004, Maritza Correia foi a primeira negra medalhista. Lia Neal também já ganhou medalhas. Simone Manuel citou Jones, Neal e Correia como pioneiros nas entrevistas concedidas após sua vitória no Rio 2016.

Ainda falta diversidade na natação
Por que só agora tivemos uma campeã de natação negra? Por uma série de fatores. Especialmente em países em desenvolvimento, ter acesso a instalações de boa qualidade ou até mesmo básicas para praticar o esporte ainda é difícil.

A falta de negros entre os atletas de elite faz com que menos negros se iniciem nas bases da natação. Sem exemplos a serem seguidos, pode haver a impressão entre potenciais nadadores negros de que "isso não é para mim". E há a questão espinhosa do "talento versus estímulo" entre os atletas.

O estereótipo grosseiro de que o biotipo de negros torna mais difícil sua flutuação na água já foi desmentido, mas ainda hoje alguns esportes são vistos como "especialidades" de algumas etnias. Essas percepções estão profundamente enraizadas culturalmente, mas pioneiros como Simone Manuel podem ajudar a alterá-las.

"Quero vencer como qualquer outra pessoa"
Em outra situação, as discussões após a disputa seriam sobre a prova em si, que foi eletrizante. Manuel dividiu o ouro e o recorde olímpico com a adversária canadense Penny Oleksiak, de 16 anos.

Em entrevistas após a final, Manuel disse esperar que um dia as atenções estejam voltadas para o desempenho esportivo e não para a etnia do atleta.

"Espero que, no futuro, haja mais de nós e não apenas a 'Simone, a nadadora negra'", disse ela.

"O título 'nadadora negra' faz parecer que eu não deveria ser capaz de ganhar uma medalha de ouro ou quebrar recordes, e isso não é verdade, porque trabalhei tão duro quanto todo mundo. Quero vencer como qualquer outra pessoa".

Fonte: BBC

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