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Papo de master – 04 anos depois: O que eu vi das olimpíadas

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Há 04 anos, uma oportunidade ímpar marcou a história do Brasil com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro e em especial, a minha vida [pseudo]. De tal forma, à época, foram publicadas aqui no blog dois artigos, um deles contendo uma análise daquilo que poderia ter sido bem melhor. Hoje, diante do enfrentamento contra o coronavírus, vimos os Jogos Olímpicos serem transferidos para 2021, algo que somente aconteceu parecido durante a II Guerra Mundial (1939-45). Na atualidade, os Jogos Olímpicos foram pensados como um grande evento a nível mundial que promovesse a paz entre os povos através da justa disputa das modalidades esportivas. O confinamento, de fato, acabou provocando reações de autoanálise em praticamente todas as esferas, e não seria diferente reavaliarmos ideias, mesmo depois de tanto tempo...

Foto: Franklin Rodrigues
Arquivo pessoal

Os Jogos Olímpicos continuam encantando e certamente continuará por décadas ou até séculos, cada versão com sua particularidade na tentativa sempre premente de superação, aperfeiçoamento e pacificação. Assim como o furacão que foi a modificação em massa da cultura global por Michael Jackson e seu duradouro legado, os Jogos Olímpicos tendem a permanecer como expressão universal de satisfação pessoal produzida pela saúde e disciplina de valores encontrados nas modalidades esportivas. Os Jogos Olímpicos expressam não meros campeões, mas heróis de fato. Longe daquela mitologia que um dia havia inspirado os Jogos na Antiguidade, é graças aos Jogos Olímpicos que heróis se tornaram parte de nosso dia a dia.

No entanto, quatro anos se passaram e qual foi o legado deixado pelos Jogos Olímpicos Rio 2016, além de escândalos de corrupção? Boatos dizem que a China, proporcionalmente, não tem o urbanismo que temos no Brasil; não tem tantos locais turísticos, não tem a saúde do SUS, não tem a Amazônia, não tem INSS, não tem futebol nem mulheres bonitas; mas tem um número esmagador de medalhistas olímpicos à frente do Brasil. Se puxar pra natação, por que um campeão estadual no Brasil comemora título mais do que um campeão mundial chinês?


Eu não sei o seu, mas o meu ex-técnico Zezé (+1998) dizia que acabada a competição, no outro dia tinha treino. Lá na China deve ser parecido, talvez (...); mas por aqui, eu já vi atletas saírem da competição direto pras praias, boates etc... Isso talvez tenha ligação com a forma como seu técnico lida com resultados, "apostando na sorte" e não no trabalho objetivo. Some-se à forma como sua família trata a conquista de uma medalha e pior ainda, como as secretarias de esportes contabilizam os gastos com um evento esportivo: Se isso seria positivo pra imagem do candidato. Quando comparamos realidades outras de países que evoluíram nos esportes e consequentemente no nível de bem-estar social, percebemos que no Brasil existe um ciclo corruptível que acaba atingindo a forma como lidamos com esportes.

Fazer parte desse ciclo corruptível parece até cálculo infinitesimal, quando no fundo, uma breve análise poderia nos colocar no centro determinante dessa continuidade. É possível perceber que a pretexto de relativismos, a gente corra o risco de esquecer por quais parâmetros ou padrões estabelecemos o que seria corruptível. Ainda que ocorra esse esquecimento, os valores do esporte estarão ali de volta para nos fazer lembrar que é pela ética, disciplina e felicidade que podemos quebrar esse ciclo. Isso porque quando falta felicidade, quando falta disciplina ou quando a ética é deixada de lado, a corrupção se torna nossa maior adversária nos esportes e na vida.

Não parece muita coincidência a Operação Lava Jato ter ganho mais força na mídia brasileira logo após os Jogos do Rio 2016? A pesar de ter surgido em 2014, ano de Copa do Mundo no Brasil, a Lava Jato tomou maiores proporções justamente no momento em que poderíamos ter contabilizado novos heróis olímpicos do Brasil e projetado a formação de novos atletas para novas gerações. E assim, ao desencadear uma avalanche de mal-estar na política, a mídia brasileira tratou nossos heróis como panteão transcendental, ou seja, mergulhada numa dualidade platônica, não deu aos nossos heróis 10% do que um atleta merece. Daí recai-se a culpa, sim totalmente exclusiva, na irresponsabilidade das maiores empresas de jornalismo no Brasil, como a Globo, a Record e o SBT. Um atleta em cima do pódio no Brasil não valia tanto quanto um político denunciado na Lava Jato.

Mas naquele ciclo corruptível, uma parte do planeta fica às escuras quando não bate a luz do sol. E nem percebemos que acomodar-se pode ser um dos piores indicadores de corrupção instaurada nos valores do esporte. Lá onde a luz não chega, o interesse financeiro confunde-se com o interesse capitalista, quando a competição e a concorrência deviam produzir evolução. Ueh, não foi isso que você estudou no segundo grau? Onde não há evolução, onde não há aperfeiçoamento, não existe capitalismo, mas sim uma falsa ideia de capitalismo, disfarçado sob a égide de um comodismo com os mesmos times de futebol variando um ciclo de títulos a cada ano (e por aí vai...). Foi na Era Romário-Ronaldo que o Brasil tornou-se o maior exportador de jogadores de futebol, porque existia competição, porque cada jogador queria ser o melhor. Era o que se podia esperar também das outras modalidades, como o basquete ou o ciclismo denunciados em escândalos de corrupção (...).

Foto: Franklin Rodrigues
Arquivo pessoal



Daí você vê o sorriso na foto e se questiona: Então, o que você foi ver nas olimpíadas? O que eu vi foi bem mais do que aquela impressão causada pelas imagens de Televisão, quando se torna um sonho realizado. E só? O que o Comitê Olímpico Internacional produziu foi algo surreal, do tamanho que se imagina mesmo de uma Olimpíada. Não me esqueço nunca daquele abraço entre argentinos, chineses, australianos, alemãs, brasileiros e outros festejando em Copacabana ou daquele voluntário que correu e se esforçou pra entender a língua diferente e orientou o fulano em qual portão entrar com tamanha gentileza. Ah, também teve a Polícia Federal fazendo questão de não entrar com um apito na arena de Vôlei de Praia e eu tendo que esconder o trombone de baixo da areia da praia... Teve um camelô que insistiu que eu era medalhista e colocou uma réplica da medalha olímpica no meu pescoço...

Isso sem contar depois que Michael Phelps e Katie Ledecky nadaram as eliminatórias, e eu procurando como encontrá-los para uma foto e quando todo mundo saiu da arquibancada, só sobraram os zeladores, alguns vigias, eu e minha namorada [na época, grávida de meu primogênito]. Quando não tinha mais ninguém, a vontade de se jogar ali naquela piscina com roupa e tudo foi enorme, mas entreguei a Deus aquela emoção. Teve muita coisa boa que fica reservada para o que o Comitê Olímpico Internacional produziu na dimensão grandiosa daquele evento, não para o que o Governo Brasileiro herdou, que saibamos separar a luz das trevas.

Nem tudo poderia ter sido melhor descrito quanto a percepção do que uma noite no aeroporto por um desencontro de agendas e o roubo de um smartphone com mais de 200 fotos poderia proporcionar, depois que tanta coisa boa havia acontecido ali. Coisas do carioca que rouba no dia de domingo. Isso mesmo, parece que "Deus trabalhou em 06 dias e no sétimo", aquele carioca resolveu me roubar. Tudo isso gravado por câmeras no Aeroporto do Galeão cujo acesso foi solicitado à Polícia Federal, que pareceu ficar prolongando o atendimento de propósito, como se soubesse que o meu voo estava próximo de partir. Em 06 dias, vivi emoções incríveis nas olimpíadas, mas no sétimo pra completar, o chinês Sun Yang passa no corredor do aeroporto, ali perto de mim, e numa atitude quase me atropelando, passa batendo no ombro com tamanha arrogância e ignorância... Foi o único toque que eu tive com um atleta olímpico, diga-se por sinal, recordista olímpico e campeão mundial na época. Assim, a gente vai caindo na real e para não desanimar quem almeja uma olimpíada, tenta reverter as decepções, porque nem todo campeão olímpico seria estúpido como o Sun Yang e nem toda cidade olímpica seria uma Rio de Janeiro.

Um dia alguém poderia visitar o Rio de Janeiro e se sentir numa cidade que foi palco de uma Olimpíada. Visite os museus. Não é coisa do século passado, de 1800 ou 1700, não. Faz apenas 04 anos. Visite os museus que você vai encontrar algo sobre as Olimpíadas. Parece vexativo, mas é fato: visite os museus do Rio e só. Foi o pó que sobrou hoje além das fábulas contadas. A cidade que poderia ser orgulho pro Brasil esconde o medo da cadeira dos réus. Mas a história, ela sozinha irá julgar o Rio de Janeiro, não sou eu nem você. Assim como há mais de 100 anos uma favela se ostenta o orgulho de ter decapitado a cabeça do nordestino Antônio Conselheiro e não ter uma certidão de Habite-se. Irônico. Precisamente, mais de 110 anos depois e não tem uma certidão de Habite-se no Morro da Providência. Acomodaram-se tanto seus moradores, herdeiros do grande heroísmo da virada do século XIX (1897), quanto o próprio governo. E quando uma árvore se acomoda ao cupim, o que você esperaria dos frutos? Foi isso o que eu vi, não das olimpíadas, mas do Rio de Janeiro.







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