Papo de master – Meu melhor tempo 1/2 - Natação do RN

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Papo de master – Meu melhor tempo 1/2

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A categoria master é recheada de exemplos de quem não deixa as piscinas nem com 25, nem com seus 60 anos de idade. Muitos dos quais até começaram a nadar tardiamente, beirando seus 30 ou 40 anos. A ABMN registra recordes brasileiros, sul-americanos e mundiais nas categorias acima dos 80 anos de quem entrou na natação como recomendação médica e percebeu que além do simples ato de nadar, havia aquele convívio máster indispensável que tornava essa categoria mais que especial. Recordes são números de um tempo registrado, mas será que um número consegue expressar a satisfação de um atleta?



Bem, a resposta poderia parecer complexa, se a gente tomasse toda a categoria máster em sua amplitude e diversidade de históricos que cada atleta traz consigo. Por outro lado, a resposta poderia ser simplista, se hipoteticamente todos os nadadores masters tivessem passado toda a sua vida nadando pelo menos 04 competições por ano. Para esse tipo de pergunta, é preciso desconsiderar aqueles atletas que começaram tardiamente, independente do sucesso que tiveram assim que entraram pro master. A resposta se direciona especialmente para aqueles que nadaram o infantil, o júnior, o sênior e viveram aquela cobrança tensa do técnico para baixar seu tempo.

Recentemente, alguns atletas “masters” foram destaque ao serem campeões olímpicos e mundiais: o brasileiro Nicholas Santos fez o melhor tempo do mundo no 50m Borboleta no início do ano, com 37 anos de idade; o americano Anthony Ervin venceu o 50m Livre nas olimpíadas do Rio 2016, batendo 21.40’’ aos 35 anos de idade. Histórias de quem fez da natação também seu profissionalismo, mesmo que caíssem na “exceção à regra”.

O último campeonato mundial máster Budapeste/Hungria 2017 também apresenta números incríveis, agora se estendendo a provas de fundo para atletas acima dos 40 anos. Diante da alta competitividade dos mundiais FINA, raramente um atleta acima dos 30 anos estaria listado dentre os finalistas de um 400m Medley ou 1500m Livre, talvez seja mais fácil encontrar velocistas nessa faixa etária, como Michael Phelps que aos 31 anos de idade, tornou-se o mais condecorado atleta olímpico com 23 ouros.

Seja lá a nível mundial, seja cá em nossas piscinas, quando um atleta carrega em seu histórico aquela cobrança no horário de treino e nas repetições das séries, fica muito fácil entender porque alguns fazem questão de um número a alcançar como meta. Que seja importante sim, mas quando você sai do ambiente de um campeonato absoluto para um master nem sempre esses números refletem a satisfação de um atleta. É muito intuitivo medir a satisfação de alguém logo após concluir sua prova. Porém, o que se está questionando é se um número expresso pelo tempo indicaria o nível de satisfação.

Quem começou lá no infantil, passou pelo juvenil, júnior, sênior e chegou ao master sabe que sua melhor performance não evolui diretamente proporcional com a idade. Aqui vamos fazer a distinção entre “melhor performance” e “melhor tempo”. Sua melhor performance mede seu desempenho durante uma prova, mas a expressão “melhor tempo” é muito intuitiva e hipotética. Alguns líderes de equipe masters ainda usam a expressão “melhor tempo” confundindo com desempenho na prova, quando na verdade o “melhor tempo” expressaria sua capacidade no exato momento da prova, dentro da capacidade que seu corpo suporta naquela idade.

“Melhor tempo de toda a sua vida”, alguns usam erroneamente para comparar um master de 50 anos com um garoto do sênior aos 18 anos de idade, por exemplo. E isso se torna até complicado quando um nadador master se confronta diante de outros fatores que o impediriam de alcançar aquele tempo expresso em números. Mas tempo não é algo que se viveu ontem. Tempo não é algo que você irá viver amanhã. Tempo é algo que você vive hoje. E hoje você deve considerar todos os fatores que contribuem para sua performance, mesmo que aquela sensação de um súbito tempo passado tenha registrado um número.

Isso poderia parecer um papo filosófico, mas não, é apenas uma tentativa de romper um paradigma que muitos líderes de equipe (não técnico) carregam erroneamente, como se quisessem transferir aquela carga de responsabilidade de um garoto de 16 anos para um master 38 ou 65. Aquela súbita neurose que atravessa as idades num ímpeto contra as leis naturais do corpo, apostando no acaso e pior, em atitudes quase antidesportistas, debochando de quem não alcançou aquele número idealizado.

Nadar é atrativo ao ser humano em qualquer das idades; competir de igual pra igual, não. Nosso habitat é sobre a terra e sobre a terra temos maior domínio de si do que no meio aquático (lamento dizer isso aos entusiastas neuróticos por recordes – caia na real). Quem se lança no mar ou numa piscina precisa que aquele líder de equipe respeite suas limitações, tendo em vista a diversidade que o ambiente apresenta, e considere que o “melhor tempo” não se faz por números, o seu “melhor tempo” é hoje.

O que passou você não consegue fazer retornar e o que virá você não tem certeza. Sua única certeza, digo especialmente aos masters: sua única certeza é o hoje, não um número idealizado de forma neurótica, que desrespeita as limitações de seu corpo. Pode até ser que esses neuróticos antidesportistas debochem das suas limitações porque você não alcançou um número idealizado; eles não aceitam o próprio ponto fraco de um orgulho ferido e se arrogam no direito de debochar e assim minar o brilho de uma equipe.

Por causa das frustrações que se vive por neuroses de números a se alcançar, é lamentável ver uma parcela dos nadadores masters insatisfeitos consigo e desanimados na equipe. Natação em si é aquele reencontro consigo, quando você experimenta de si sua capacidade refletida pelo que a água lhe responde no nado. Isso não irá mudar, mesmo que momentaneamente toda uma equipe esteja à mercê de um súbito líder neurótico por números e que não faz caso de sua própria insatisfação.

O outro lado do mar e da piscina existem, e por isso o seu “melhor tempo” é o hoje e continuará sendo o hoje, não importa o número. Você só tem o hoje para se dedicar, você só tem o hoje para enfrentar seus desafios e você só tem o hoje para dar o melhor de si. Aceitar o fato pode trazer maior satisfação consigo mesmo do que relutar e viver à mercê de um líder neurótico por números secos.



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