Há alguma contraindicação? Os exercícios podem piorar ou melhorar seus efeitos colaterais? Afinal, já se sabe que a atividade física regular fortalece o sistema imunológico humano, reduz em mais de um terço o risco de adoecer e morrer de doenças infecciosas e aumenta significativamente a eficácia das campanhas de vacinação e das vacinas em geral. Mas e quanto à prática de atividades físicas e esportes no mesmo dia ou nos primeiros dias após a imunização?
De acordo com profissionais, caso a pessoa esteja se sentindo 100% bem, não há nenhuma contraindicação para a prática de atividade física após a vacinação. O que pode acontecer, caso a vacina gere alguma reação ou efeito colateral, é a pessoa não ter disposição para fazer exercício; e, nesse caso, deve mesmo se poupar. Do contrário, caso a pessoa não sinta nada, ela pode fazer qualquer prática desportiva, realizando suas atividades de maneira usual, conforme sua rotina.
"Você realizar o exercício físico antes ou depois de tomar a vacina não interfere em nada. O grande problema é: caso você tenha algum efeito colateral da vacina, o que sabemos que é bem comum, a mesma pode afetar a qualidade do seu treino ou até mesmo pode fazer com que você não se sentir bem o suficiente para ir treinar. Então, caso a pessoa sinta algum efeito colateral advindo da vacina, o ideal é que ela mantenha-se hidratada, em repouso e tome remédio para dor ou para febre. Logo após a recuperação, ou seja, quando a pessoa estiver se sentindo bem novamente, ela pode retornar para sua rotina de treino habitual" - aponta a infectologista Gabriela Gehring.
Prática esportiva e vacina
Um estudo publicado em abril na revista Sports Med, reunindo pesquisadores de universidades inglesas, escocesas, belgas e espanholas, analisando pesquisas publicadas até 2020, apontou que indivíduos com maiores níveis de atividade física (moderada ou intensa e regular) obtiveram um menor risco de infecção, uma melhor resposta de algumas células de defesa e uma melhor resposta vacinal quando comparados a indivíduos com menor nível de atividade física. Não é que o exercício físico modifique a eficácia das vacinas em si; o que ocorre é que, quando a prática esportiva é feita adequadamente, ou seja, sem excessos, ela aumenta a imunidade das pessoas, melhorando, consequentemente, a resposta à vacinação.
"Nos praticantes de atividade física regular, ocorre a liberação de citocinas e neurotransmissores que ajudam estimulando o sistema imunológico a ficar mais ativo. Então, seria basicamente essa a relação entre exercício físico e imunidade. Contudo, no caso da prática de atividade física extenuante, a relação é inversa, podendo diminuir esse efeito imunoprotetor e, consequentemente, afetar o sistema imunológico, fazendo com que as pessoas tenham algum sintoma de imunodeficiência, o que facilitaria a aquisição de infecções, por exemplo" - explica Rodrigo Molina.
A prática esportiva pode piorar ou melhorar os efeitos colaterais advindos da vacina?
De acordo com Rodrigo Molina, não há relação entre atividade física e a melhora dos efeitos colaterais advindos da vacina. Por outro lado, Gabriela Margraf explica que os exercícios podem piorar alguns sintomas advindos da reação à vacina.
"Pensando na possibilidade de efeitos colaterais da vacina, como a presença de uma forte dor de cabeça, talvez treinar com esses sintomas possa piorar o quadro, assim como a pessoa pode piorar sua dor muscular, por exemplo, caso realize uma atividade física. Então, no caso da apresentação de sintomas/efeitos colaterais após tomar a vacina, o ideal é manter o repouso e retornar para a prática esportiva normalmente apenas quando estiver se sentindo 100% bem" - indica a médica.
É recomendado esperar um tempo antes de voltar às atividades físicas após tomar a vacina?
Como explicam os médicos infectologistas, não existe nenhuma recomendação oficial de tempo. Portanto, a pessoa pode tomar a vacina de manhã e ir fazer sua atividade no período da tarde ou até mesmo na sequência, por exemplo. O que guiará a pessoa neste sentido é o estado em que a mesma se encontra após a vacinação. Caso ela esteja se sentindo bem, o treino está liberado. Mas caso sinta algum efeito colateral, o ideal é aguardar ou fazer um exercício físico mais leve. No caso da presença de um efeito colateral mais intenso, a recomendação é para ficar em repouso e só retornar à prática esportiva quando estiver totalmente recuperado, sem sintomas.
A importância da vacinação para os atletas
Independentemente de ser atleta, idoso ou um indivíduo com comorbidades, a vacinação é essencial para a população. Vale ressaltar que a vacina é um ato coletivo, e não um ato apenas individual. Então, quanto mais pessoas se vacinarem, melhor para todos, pois cria-se uma rede de proteção contra o vírus.
"A importância de um atleta, seja ele amador ou profissional, se vacinar é porque, dependendo da modalidade esportiva praticada, o mesmo vai ter contato com outras pessoas, o que facilita e aumenta a chance desse indivíduo adquirir a doença e também transmitir o vírus. Então, a vacina é a forma mais eficaz de proteger não somente ele, mas todos ao seu redor" - explica Rodrigo Molina.
Além disso, ao se contaminar com Covid-19, o atleta pode ter desde um caso assintomático até muito grave, passando por leves e intermediários. Medalha de ouro no vôlei de praia nas Olimpíadas do Rio, em 2016, e já classificado para Tóquio, Bruno Schmidt, de 34 anos, ficou 13 dias internado com a doença em fevereiro deste ano, cinco deles na UTI. O ex-jogador de vôlei e atual técnico da seleção brasileira masculina da modalidade, Renan Dal Zotto, passou 36 dias internado entre abril e maio, com direito a duas intubações, uma cirurgia por causa de uma trombose e 26 quilos perdidos.
Como eles, atletas profissionais e amadores de todo o mundo sofreram com o coronavírus. Alguns mais, outros menos. E todos precisaram passar por um período parados, durante e após a doença; tiveram que fazer uma série de exames médicos; e, em muitos casos, enfrentaram um extenso período de recuperação das funções muscular, pulmonar e cardíaca, tendo que correr atrás do condicionamento perdido. A vacinação tem potencial para evitar a doença ou, ao menos, seu agravamento, prevenindo, por tabela, perdas na performance esportiva.
Por fim, o médico ressalta que, independente de onde a pessoa esteja fazendo sua atividade física, é essencial que ela siga todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja: utilize máscara e respeite o distanciamento social. Em uma academia, por exemplo, evite fazer o revezamento de equipamentos; o ideal é fazer o exercício e, logo depois do uso, já limpá-lo para deixar disponível para outra pessoa. No caso de uma atividade de rua, o ideal é que a pessoa pratique a atividade sozinha, mas, caso a mesma esteja acompanhada, a recomendação é para que, além de fazer o uso da máscara, todos respeitem o distanciamento de pelo menos 1,5 metro.
Fonte: GE
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