Até quando o homem pode bater recordes? - Natação do RN

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Até quando o homem pode bater recordes?

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O tempo na natação é relativo. Perceba o caso de Johnny Weissmuller, mais conhecido pelo personagem “Tarzan”, um dos mais emblemáticos do cinema, mas que durante muito tempo foi considerado o melhor nadador “de sempre”. Praticamente imbatível, bateu mais de 50 recordes mundiais e ganhou todas as 12 provas em que participou nos Jogos Olímpicos, conquistando cinco medalhas de ouro. 


Tornar-se o primeiro a baixar da barreira do minuto nos 100 metros Livre, a prova-rainha da natação, foi um dos pontos altos da carreira do norte-americano. O seu melhor registro (0’57.4’’) sobreviveu dez anos como recorde mundial – de 1924 a 1934, e no entanto, para os padrões atuais, apesar de obtido numa distância de sprint, seria considerado um tempo lento.

Na natação, os recordes foram mesmo feitos para serem quebrados. O húngaro Zoltán Halmay foi o primeiro recordista dos 100 metros Livre reconhecido oficialmente, depois de baixar de 01’05.8’’, em Viena/Áustria, em 1905. Mais de um século depois, a melhor marca (00’46.91’’) pertence a César Cielo/Brasil, 19 segundos abaixo da marca de Halmay e 10 segundos abaixo da de Weissmuller. Visto por outro ângulo: se os três competissem simultaneamente, o húngaro e o norte-americano estariam 28 e 18 metros atrás do brasileiro, respectivamente, quando este atingisse a borda.

Para um efeito dramático maior, considere-se a prova dos 1500 metros Livre, a maior distância da natação competitiva em piscina. Em 1922, a norte-americana Helen Wainwright completou a prova em 25’06.6’’. Em 2017, Katie Ledecky, co-patriota e tida como a rainha da “média e longa distância” da atualidade, fez o 1500m Livre cerca de 10 minutos a menos (09’38’’) de Helen. Comparando os 15’28.36’’ de Ledecky com os 25’06.6’’ de Wainwright (de 1922 a 2017), a amplitude da prova confere uma distância de cerca de 576 metros entre uma e outra (o equivalente a quase 06 voltas ou um “coro de 05 rabadas” na gíria do nadador).

A evolução é a norma, não apenas na natação. Há recordes mundiais que foram aperfeiçoados mais de 40, 50 ou 60 vezes desde que o primeiro foi registrado. Os tempos progrediram radicalmente por vários motivos. Somos mais altos, mais fortes e a era do amadorismo, especialmente nas grandes nações da modalidade, ficou há muito para trás. As alterações de estilo e das regras (a separação entre peito e borboleta nos anos 50, por exemplo) também influenciaram decisivamente a modalidade. Assim como o desenvolvimento tecnológico dos materiais. Até as piscinas se “tornaram” mais rápidas. Tudo conta para ganhar um centésimo de segundo – ainda que o “desaconselhável” bigode de Mark Spitz, em Munique 1972, não o tenha impedido de ganhar sete títulos (e todos acompanhados por recorde mundial).

Há pouco tempo, assistiu-se ao maior “boom” de recordes da história da natação. Eles sempre caíram com alguma regularidade, mas muitas marcas tinham conseguido sobreviver ao teste do tempo. Os máximos de Janet Evans nos 400, 800 e 1500m livres e os últimos de Mary T. Meagher nos 100 e 200m borboleta duraram todos entre 18 e 19 anos. A holandesa Willy den Ouden teve o recorde nos 100 Livre por 20 anos (1936 a 1956), entre outros exemplos. Mas nunca num período de dois anos como entre 2008 e 2009 houve tantos recordes batidos. Com auxílio de novos trajes competitivos compostos de materiais não-têxteis, como o poliuretano, os atletas nadaram como nunca. Somente três recordes – todos nos 1500 metros Livre – entre as mais de 80 provas da natação resistiram à era dos trajes de alta tecnologia.

Entretanto, apesar do regresso a trajes mais convencionais e da readaptação inicial, os nadadores parecem ter encontrado uma maneira de voltarem a superar barreiras. Em Dezembro/2014, no Mundial de Piscina Curta, no Qatar, foram registrados 23 recordes mundiais.

Vivemos para nos ultrapassar. Mas há quem defenda que estamos a ponto de atingir limites da velocidade que um humano pode atingir na água e que isso, num futuro próximo, obrigará a uma estagnação das marcas. João Paulo Vilas Boas, contudo, acredita que os recordes continuarão a ser batidos. “Não tenho dúvida. Estamos na pré-história do conhecimento em todos os domínios. E no desporto ainda mais. Daqui a 100 anos, os recordes de hoje já terão desaparecido há muito”. Neste sentido, baixar dos 44 segundos nos 100 metros Livre, por exemplo, é agora uma perspectiva real? Só o tempo dirá.

Fonte: Manuel Assunção in Acervo Público

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