A
seleção de natação do RN formada por atletas filiados à federação esteve em
Recife/PE participando do Torneio NNE – Troféu Dr. Milton Medeiros nos dias 30
de junho e 01 de julho, mas tudo bancado praticamente pelos próprios pais dos
atletas e a FAN. Confira a continuação das entrevistas feitas com a presidente
da federação, Rosileide Brito, e o secretário adjunto da SEEL, João Pessoa (o
“Joca”), sobre a atual situação de apoio que a natação potiguar carece, agora
abordando assuntos como: corrupção, plano estadual do esporte, custeio da
federação, extinção de clubes de natação, parques aquáticos públicos e
patrocínio.
As
entrevistas se deram com Rosileide Brito no dia 27 de junho, com o secretário
João Pessoa no dia 19 de julho, com tréplica de Rosileide no dia 21 de junho. É
de fundamental importância que você acompanhe o momento delicado entre política
e esportes. As opiniões aqui publicadas são de responsabilidade do autor do
blog, Franklin F. Rodrigues.
Ainda
sobre a viagem da seleção de natação do RN pra Recife/PE, declarou a presidente
da FAN Rosileide Brito:
“Os atletas
estão pagando a hospedagem, o ônibus e a alimentação deles. A federação
conseguiu através de João Carlos [técnico do Expansivo] o patrocínio das
camisas, as calças são da federação [devolver] e a federação pagou quase R$ 4
mil de caídas n’água [inscrições de cada prova]. Ou seja, pros meninos viajarem
teve o patrocínio dos pais e da federação, mas infelizmente ninguém patrocina
[empresas]. João Carlos do Expansivo conseguiu duas empresas que patrocinaram
as camisas, que a gente vai dar de presente pra eles, a camisa é dos atletas,
agora a calça faz parte do uniforme da federação e eles vão ter que devolver”.
Um
dos assuntos mais delicados da atualidade envolve a corrupção de agentes
políticos que acaba comprometendo dentre outras áreas, o investimento no
esporte. Reportagem do Esporte Espetacular de 09 de abril, disponível no vídeo E agora? Confira cinco propostas para melhorar o esporte brasileiro do
canal Swim It Up abordou de forma precisa a participação política nos esportes na matéria: 05 propostas para melhorar o esporte. E sobre
isso comentou a presidente da federação, Rosileide
Brito:
“Uma das maiores
falhas de tudo isso é a falta de apoio dos governos federal, estadual e
municipal. A federação sendo uma entidade sem fins lucrativos, não tem apoio de
empresas particulares nem dos órgãos públicos, nenhum. Então se o governo não apóia
o esporte, de onde a gente vai tirar esses custos?”
O
sec. adj. João Pessoa completou:
“A questão
básica aí é essa situação nacional da esfera da corrupção, porque enquanto a
gente tiver homens em locais estratégicos que se corrompem, nós teremos a
atenção lá na ponta do iceberg, seja na educação, seja no esporte, seja ela em
que seguimento for: serão prejudicados. Então, houve o benefício ao indivíduo:
nós teremos problemas com o benefício ao coletivo”.
Com
isso, acrescentou um comentário sobre a situação vivida pela CBDA:
“E o processo na
CBDA, ele gera também fumaça, gera problema nas federações conseqüentemente.
Isso é notório. Porque, se tem uma confederação que detém recursos, que poderá
vislumbrar o apoio a essas federações estaduais. Essas federações têm a
inscrição e taxas de caída n’água, taxa de anuidade dos atletas, então ela tem
o recurso, a fonte de recursos. Se tudo isso dentro de um sistema que não
oscile, mas um sistema equilibrado, a federação terá a condição de ter seus
parceiros e poderia buscar na iniciativa privada, esses parceiros, pra daí
também garantir o apoio”.
Respondeu
Rosileide:
“Infelizmente, é
por isso que a gente tem que cobrar cadastro, cobrar prova, porque é dessa
forma que a federação tira dinheiro pra essas coisas... Até o JERNS pra ser
realizado está sendo a maior dificuldade. Imagine um evento do Governo do
Estado [nessas condições...]”.
A
participação de clubes no estadual de natação foi uma observação tocante de
nossa realidade. Das 08 equipes listadas no ranking da 2ª fase do Campeonato
Estadual, apenas o SESI é um clube em sua origem, quando as demais 07 entidades
são escolas e ainda, escolas particulares. Nenhuma escola pública que dispunha
de piscina como o IFRN ou o CAIC participam do estadual de natação e isso
corrobora a opinião de João Pessoa:
“Vemos também
que há uma decadência no que diz respeito no aspecto esporte-clube. Federação:
nós entendemos que atende a clubes. Correto?! Só que os nossos clubes hoje não
desenvolvem mais a prática de base, os esportes de base, não desenvolve a
natação de base mais especificamente. Há tempos, outrora, nós tínhamos o
América, o Aeroclube como clubes que apresentavam suas equipes, a AABB... hoje
quem faz esse papel são as escolas com seus parques aquáticos”.
Em
se tratando de custeio da federação, o secretário adjunto da SEEL, João Pessoa (“Joca”) reclamou da
sustentabilidade comprometida da federação:
“A gente precisa
ver também que os campeonatos da federação, eles são alto-sustentáveis. Existe
na federação uma taxa de inscrição do atleta e para cada caída n’água o atleta
paga. Conversando aqui com alguns pais da natação foi verificado que tem pai que chega a pagar em uma competição R$ 180,00 (cento e oitenta reais), porque o
filho dele cai na água nove vezes. Isso é uma declaração que me foi passada”.
A
presidente da FAN respondeu:
“A federação é
autônoma, mas sem fins lucrativos, ou seja, ela trabalha: com o que entra é o
que sai, o que entra dos atletas das caídas n’água é pra custear medalha,
troféu e fazer a manutenção. A CBDA não manda um real (R$) pra gente pagar
nossas despesas mensais, tipo: água, luz, telefone, funcionário, essas coisas
não, a gente não recebe um real (R$) da CBDA, nada. O que eu recebo da CBDA são
materiais, equipamentos eletrônicos das competições, fora isso a gente não
recebe nada de ninguém”.
Ao
frisar que a federação é uma entidade “sem fins lucrativos”, Rosileide lamentou
o comprometimento dos custos que a federação tem tido na ordem de R$ 6 mil de
gastos mensais, incluindo com isso o apoio que tem recebido das entidades que
liberam suas piscinas para competições como o EDHC e o colégio Nsa. Sra. das Neves.
Se não fosse assim, quem sabe as taxas fossem ainda mais caras para custear o
uso das piscinas, uma vez que o Estado não dispõe de piscina pública tanto para
a prática da natação, quanto para competições oficiais. Estados vizinhos como a
PB e o CE dispõem de parques aquáticos públicos de ótima qualidade, de dar
inveja aos potiguares. Sobre isso comentou João
Pessoa:
“Nós estamos
tendo problemas em manter os nossos parques aquáticos. Nós precisamos
incentivar uma política pra que o Governo também crie os parques aquáticos
públicos. Pra que de lá do seguimento público venham demandas pra substanciar a
prática da natação junto à federação e engrandecer as competições. Isso será
feito quando nós tivermos um plano estadual de esporte e laser, quando nós
tivermos uma política pública para desenvolver o esporte e o laser com um
sistema adequado, alinhado ao sistema nacional”.
Rosileide
completou:
“A gente precisa
de um parque aquático do Estado, do Município, mas que a federação possa até
tomar conta e ter sua sede lá e assim, fazer aulas pro pessoal carente e muitas
outras coisas, fora as competições. Então assim, em todos os lugares que a
gente vai, o Governo ou a prefeitura tem um parque aquático bonito e as
federações fazem as competições nesses locais. Agora aqui, você vê: difícil”.
Uma
das inovações prometidas pelo secretário adjunto João Pessoa é o Plano Estadual do Esporte e do Laser, o que poderá
abarcar tanto a sustentabilidade da federação quanto a manutenção de um parque
aquático público:
“Nós estamos aí
desenvolvendo uma ação que é o Plano Estadual do Esporte e do Laser. O plano
estadual do esporte e do laser vai trazer uma condição legítima
institucionalizada pra formalização de políticas para o esporte. Então a
federação, ela vai sair dessa situação de estar sendo o ser ‘pedinte’ de apoio
e ter onde garantir esses recursos através de processos dentro de uma
legislação específica, dentro de um sistema pro desporto potiguar”.
Outro
assunto abordado na entrevista é o patrocínio ao esporte, que visivelmente tem
demonstrado praticamente total escassez por parte de empresas genuinamente
potiguares. Principalmente, as grandes empresas milionárias do Estado cuja
contribuição do ICMS superam os R$ 10 milhões (mais de 30 empresas). Em relação a isso, João Pessoa questionou:
“Cadê a
participação das empresas privadas? Ora, poderia estar fazendo um campeonato de
federação ‘empresa X’, por exemplo (...). Então a questão de mercado e a
questão de ação no esporte no nosso país precisa ser mais inovador. A gente não
pode estar esperando apenas que o Governo do Estado abrace as instituições
públicas, privadas e as ONGs. O Estado não tem hoje um ‘oxigênio financeiro’
pra fazer isso”.
Por
dentro do dia a dia de um esporte como a natação, Rosileide lamentou:
“Infelizmente,
as empresas que tem aqui no RN que são genuinamente do RN, elas não apóiam o
esporte. Eu digo, porque eu já fui em diversos locais, não só agora, há uns
anos atrás. Eu tenho um projeto: ‘Amigos da FAN’. Esse projeto dá pra qualquer
empresa: seja de pequena, média ou grande porte. E a gente lançou no estadual,
divulgamos... Tem vários pais que têm empresas, têm clínicas, são médicos, têm
tudo e ninguém ajuda. Entendeu?! Acham que a federação está ‘muito bem’, por
ela ser organizada, eles acham que ela não precisa de nada”.
Com
isso, a presidente da federação fez um reconhecimento de uma única empresa que
tem demonstrado presença em diversas competições, agora também patrocinando os
paratletas:
“Então é
difícil, as empresas do estado do RN infelizmente não apóiam o esporte, não é
só uma ou outra não, são todas. A única empresa que eu vi até hoje ajudar o
esporte, que eu vejo em outras modalidades e a mim sempre ajudou porque é meu
amigo é Toinho da Sterbom. Fora isso, eu não vejo nenhuma outra empresa ajudar.
É tanto que agora Toinho está patrocinando a SADEF [paratletas], é a única
empresa do Estado do RN que vejo ajudando, as outras: Você pode levar projeto,
pode fazer o que for, pode ir conversar, eles não deixam a gente chegar nem no
diretor-presidente, não é nem no presidente. Quando chega lá que a gente diz
qual é o assunto, eles mandam pro ‘marketing’ [departamento]; quando a gente
chega no ‘marketing’, eles dizem que ‘pra esse ano já foi feito, não sei o quê,
com essa crise...’. Eu já fui este ano em várias empresas levando esse projeto
e só levei fora. Então, assim, a gente faz os projetos, a gente vai atrás, mas
infelizmente aqui no RN é muito difícil fazer esporte, porque as empresas não
ajudam de jeito nenhum”.
À
exceção do futebol, custeado pela visibilidade nas principais mídias para
atrair o empresariado, a natação não difere de outras modalidades esportivas em
se tratando de patrocínio. Embora haja legislação que garanta dedução para
isenção de parte do Imposto de Renda à empresa patrocinadora, “patrocínio” é um
assunto carregado ainda de preconceitos, por uma visão de “ajuda carente”, e não
de contrato efetivo de trabalho.
É
possível que um atleta se torne “embaixador” de uma empresa? É possível que uma
equipe atraia um público para aquela empresa? É possível que uma federação confira
a uma empresa título de honra por sua contribuição para com o esporte? Ainda sim:
é possível ver o sorriso de um atleta no pódio que superou dificuldades ao não se
entregar para as drogas ou o tráfico, porque teve apoio de uma empresa que
apostou em seus resultados naquela competição? Poderia ser trágico, mas é real.
Possibilidades são possibilidades, mas talvez quem sabe, a melhor de todas as
possibilidades sejam as positivas.
Agradecemos
a disponibilidade e a gentileza da presidente da FAN – Rosileide Brito e do secretário
adjunto da SEEL – João Pessoa, pela colaboração com a comunidade aquática aqui
expondo suas opiniões. Um agradecimento ao chefe de Gabinete da SEEL, Júlio Cezar Nunes Jr., pela intermediação da entrevista com o secretário.
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