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Por que a natação é um esporte tão bom para o cérebro

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Não é segredo algum que os exercícios aeróbicos podem ajudar a evitar alguns dos efeitos do envelhecimento. Mas um crescente número de pesquisas sugere que a natação pode fornecer um impulso único para a saúde do cérebro.


Foi demonstrado que a prática regular de natação melhora a memória, a função cognitiva, a resposta imunológica e o humor. A natação também pode ajudar a reparar danos causados ​​pelo estresse e construir novas conexões neurais no cérebro. No entanto, os cientistas ainda estão tentando desvendar como e por que a natação, em particular, produz esses efeitos de aprimoramento do cérebro.

Como neurobiologista treinada em fisiologia cerebral, entusiasta do condicionamento físico e mãe, Seena Mathew é professora assistente de Biologia na Universidade de Mary Hardin-Baylor (Texas, EUA). Ela passa horas na piscina durante o verão e diz que não é incomum ver crianças brincando e nadando alegremente enquanto seus pais tomam sol à distância – "e eu fui um desses pais observando à beira da piscina muitas vezes". No entanto, se mais adultos reconhecerem os benefícios cognitivos e para a saúde mental da natação, eles podem ficar mais inclinados a pular na piscina com seus filhos.



Novas e aprimoradas células e conexões cerebrais
Até a década de 1960, os cientistas acreditavam que o número de neurônios e conexões sinápticas no cérebro humano eram finitos e que, uma vez danificadas, essas células cerebrais não poderiam ser substituídas. Mas essa ideia foi desmascarada quando os pesquisadores começaram a ver amplas evidências do nascimento de neurônios, ou neurogênese, em cérebros adultos de humanos e outros animais.

Agora, há evidências claras de que o exercício aeróbico pode contribuir para a neurogênese e desempenhar um papel fundamental em ajudar a reverter ou reparar danos aos neurônios e suas conexões em mamíferos e peixes.

Pesquisas mostram que uma das principais maneiras pelas quais essas mudanças ocorrem em resposta ao exercício é através do aumento dos níveis de uma proteína chamada fator neurotrófico derivado do cérebro. A plasticidade neural – ou habilidade do cérebro para mudar, que esta proteína estimula – aumenta a função cognitiva, incluindo o aprendizado e a memória.

Estudos em humanos mostraram uma forte relação entre as concentrações de fator neurotrófico derivado do cérebro circulando no cérebro e um aumento no tamanho do hipocampo, a região do cérebro responsável pelo aprendizado e memória.

Níveis maiores de fator neurotrófico derivado do cérebro também mostraram aguçar o desempenho cognitivo e ajudar a reduzir ansiedade e depressão. Em contraste, os pesquisadores observaram transtornos de humor em pacientes com concentrações mais baixas de fator neurotrófico derivado do cérebro.

O exercício aeróbico também promove a liberação de mensageiros químicos específicos chamados neurotransmissores. Um deles é a serotonina, que - quando presente em níveis elevados - é conhecida por reduzir a depressão e a ansiedade, além de melhorar o humor.

Em estudos feitos em peixes, cientistas observaram mudanças nos genes responsáveis ​​pelo aumento dos níveis de fator neurotrófico derivado do cérebro, bem como desenvolvimento aprimorado das espinhas dendríticas (protrusões nos dendritos ou porções alongadas das células nervosas) após oito semanas de exercícios em comparação com os grupos de controles.

Isso complementa estudos em mamíferos que mostram que o fator neurotrófico derivado do cérebro aumenta a densidade da coluna neuronal. Essas mudanças têm demonstrado contribuir para melhorar a memória, o humor e a cognição aprimorada em mamíferos. A maior densidade da coluna ajuda os neurônios a construir novas conexões e enviar mais sinais para outras células nervosas. Com a repetição de sinais, as conexões podem se tornar mais fortes.



Mas o que há de especial em nadar?
Os pesquisadores ainda não sabem o que pode ser o ingrediente secreto da natação. Mas eles estão cada vez mais perto de entender isso.

A natação é reconhecida por seus benefícios cardiovasculares. Como a natação envolve todos os principais grupos musculares, o coração precisa trabalhar muito, o que aumenta o fluxo sanguíneo por todo o corpo. Isso leva à criação de novos vasos sanguíneos, um processo denominado angiogênese. O maior fluxo sanguíneo também pode levar a uma grande liberação de endorfina – hormônios que atuam como redutores naturais da dor em todo o corpo. Essa onda traz a sensação de euforia que geralmente vem depois do exercício.

A maior parte das pesquisas para entender como a natação afeta o cérebro foi feita em ratos. Os ratos são um bom modelo de laboratório devido à semelhança genética e anatômica com os humanos.

Em um estudo com ratos, a natação demonstrou estimular as vias cerebrais que suprimem a inflamação no hipocampo e inibem a apoptose (morte celular). O estudo também mostrou que a natação pode ajudar a sustentar a sobrevivência dos neurônios e reduzir os impactos cognitivos do envelhecimento. Embora os pesquisadores ainda não tenham uma maneira de visualizar a apoptose e a sobrevivência neuronal nas pessoas, eles observam resultados cognitivos semelhantes.

Uma das questões mais interessantes é como, especificamente, a natação melhora a memória de curto e longo prazo. Para determinar por quanto tempo os efeitos benéficos podem durar, os pesquisadores treinaram ratos para nadar 60 minutos diários durante cinco dias por semana. A equipe então testou a memória dos ratos fazendo-os nadar por um labirinto de água radial contendo seis braços, incluindo um com uma plataforma oculta.

Os ratos tiveram seis tentativas para nadar livremente e encontrar a plataforma oculta. Depois de apenas sete dias de treinamento de natação, os pesquisadores viram melhorias nas memórias de curto e longo prazo, com base na redução dos erros que os ratos cometiam a cada dia. Os pesquisadores sugeriram que esse aumento na função cognitiva poderia fornecer uma base para o uso da natação como uma forma de reparar o aprendizado e os danos à memória causados ​​por doenças neuropsiquiátricas em humanos.

Embora a distância de estudos em ratos para estudos com humanos seja substancial, a pesquisa em pessoas está produzindo resultados semelhantes que sugerem um claro benefício cognitivo da natação em todas as idades.

Por exemplo, em um estudo que examinou o impacto da natação na acuidade mental em idosos, os pesquisadores concluíram que os nadadores melhoraram a velocidade mental e a atenção em comparação com os não nadadores. No entanto, este estudo é limitado em seu desenho de pesquisa, uma vez que os participantes não foram randomizados e, portanto, aqueles que eram nadadores antes do estudo podem ter tido uma vantagem injusta.

Outro estudo comparou a cognição entre atletas de atividades fora da água e nadadores na faixa de idade adulta jovem. Embora a imersão em água em si não tenha feito diferença, os pesquisadores descobriram que 20 minutos de natação de nado de peito de intensidade moderada melhorou a função cognitiva em ambos os grupos.



As crianças também têm benefícios com a natação
Os benefícios da natação que fortalecem o cérebro também parecem impulsionar o aprendizado das crianças.

Outro grupo de pesquisa recentemente examinou a ligação entre a atividade física e como as crianças aprendem novas palavras do vocabulário. Os pesquisadores ensinaram às crianças de 6 a 12 anos os nomes de objetos desconhecidos. Em seguida, eles testaram sua precisão no reconhecimento dessas palavras após fazer três atividades: colorir (atividade de repouso), natação (atividade aeróbica) e um exercício semelhante ao CrossFit (atividade anaeróbica) por três minutos.

Eles descobriram que o nível de precisão das crianças era muito maior para palavras aprendidas após a natação em comparação com as outras atividades (colorir e CrossFit), que resultaram no mesmo nível de memória. Isso mostra um claro benefício cognitivo da natação em comparação a exercícios anaeróbicos, embora o estudo não compare a natação com outros exercícios aeróbicos. Essas descobertas indicam que nadar por curtos períodos de tempo é altamente benéfico para cérebros jovens em desenvolvimento.

Os detalhes do tempo ou voltas necessárias, o estilo de nadar e quais adaptações cognitivas e vias são ativadas pela natação ainda estão sendo estudados. Mas os neurocientistas estão cada vez mais perto de juntar todas as pistas.

Durante séculos, as pessoas estiveram em busca de uma fonte da juventude. A natação pode ser o mais próximo que podemos chegar.



Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation. Leia aqui a versão original (em inglês). 

Fonte: BBC Brasil


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