Hoje é o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. A data é marcada por uma série de discussões sobre os direitos das pessoas com deficiência. Neste ano, o debate é ainda mais necessário, já que a pandemia escancarou as desigualdades que nos atinge. Ficou mais evidente a nossa dificuldade no acesso aos direitos básicos, como locomoção, saúde, educação e, até mesmo, aos recursos tecnológicos.
Para nós, pessoas com deficiência, todo dia é um dia de luta. Uma luta contra empresários que não contratam pessoas com deficiência e alegam que elas não são qualificadas; uma luta para caminhar nas calçadas das cidades; uma luta para entrar em um ônibus e até para conseguir um carro de aplicativo - quantos carros já não cancelaram a minha viagem quando eu disse que era cadeirante?
E uma das lutas que eu tenho mais levado a sério é a contra a visão estereotipada sobre nós. Uma grande parte da sociedade ainda acredita que as pessoas com deficiência são limitadas. Por um lado, nos reduzem como pessoas fragilizadas e eternamente dependentes. Por outro, colocam nossas conquistas em um patamar inimaginável como se fossemos excepcionais e não pessoas naturais.
Essa visão em relação a nós mascara os nossos reais problemas. A sociedade pode mudar a forma como nos enxerga, deixando de ver a deficiência em primeiro plano. É essa visão que as induz a intuírem que somos incapazes de realizar atividades feitas pelas pessoas sem deficiência. Nós temos nossas individualidades, nossas histórias de vida, nossas dificuldades e nossas potencialidades. Simples assim. Todas as pessoas têm, não é mesmo? No entanto, nossas potencialidades só irão aparecer se tivermos acesso a uma série de condições sociais e econômicas garantidas para que possamos ocupar espaços de direito na sociedade.
Quero citar dois exemplos. Na educação, os planos pedagógicos ainda são padronizados como se todos tivessem a mesma necessidade. No entanto, as pessoas possuem necessidades diferentes sejam elas com ou sem deficiência. Existe uma carência de suporte e de adaptação nas ferramentas dentro do ambiente escolar.
No mercado de trabalho, enfrentamos ainda o conceito central de que somos incapazes de realizar determinadas funções. Nós precisamos do trabalho. Mas também é importante que nossas diferenças sejam observadas e assim sejam criadas as condições necessárias para que possamos mostrar nossas potencialidades.
Nesse dia de luta, quero dizer ainda que existe um discurso latente de superação em relação a nós que também ajuda a nos naturalizar como pessoas incapazes. As pessoas utilizam esse discurso de forma inconsciente, no entanto, essa é uma forma de preconceito estrutural assim como ocorre com o racismo e o machismo. É preciso deixar de falar que somos guerreiros e dar voz e espaço para nós como é dado para qualquer pessoa. Entende?
Por último, quero dizer que esse dia é um dia muito importante por nós por dar a legitimidade para falar de questões que nos afligem e para cobrar do poder público políticas públicas eficazes para a nossa inclusão e acessibilidade e, principalmente, que ajudem pessoas sem deficiência e o Estado a entenderem que é necessário garantir nossa participação no máximo de espaços na sociedade. É preciso que o corpo social entenda a real necessidade do desenvolvimento de políticas para que nos coloque em condições de equidades.
Eu tenho um sonho: que nossas diferenças sejam vistas como potencialidades e que sejamos vistos como pessoas que agregam os ambientes sociais. Excelente segunda-feira para todos e abraços aquáticos!
Fonte: UOL
Nenhum comentário:
Postar um comentário