A natação é um dos esportes mais praticados do
mundo, sendo normalmente recomendado para pessoas com problemas respiratórios,
com lesões musculoesqueléticas e pessoas desejando perder peso. Especificamente
com relação à perda de peso, acredita-se que a natação forneça um alto gasto
energético por envolver um grande número de músculos em seus movimentos.
No entanto, é paradoxal ver que
nadadores normalmente apresentam maiores quantidades de gordura corporal em
comparação com atletas de outras modalidades. Como exemplo podemos citar um
estudo da década de 1980 no qual foram comparados nadadores e corredores. Os
resultados mostraram diferenças em atletas de ambos os sexos, no caso dos
homens, os corredores possuíam em média 07% de gordura, enquanto os nadadores
possuíam 12%; já para as mulheres, os valores foram de 15 e 20%,
respectivamente (Jang et al, 1987).
A análise de gasto calórico não
revelou a origem das diferenças, no caso dos homens não houve diferença entre o
balanço energético nem entre o gasto calórico (3.380 para nadadores e 3.460
kcal para corredores). No caso das mulheres, a situação foi ainda mais
paradoxal, tendo em vista que as nadadoras gastavam mais energia (2.490 x 2.040
kcal) e ainda se encontravam em um balanço energético negativo (Jang et
al, 1987).
Ao observar a comparação entre
atletas, pode-se alegar que as diferenças de composição corporal sejam
atribuídas à seleção natural, pois nadadores se beneficiariam menos de corpos
mais densos. No entanto, os estudos usando tais atividades como intervenção trazem
testemunho contra a natação. É o caso do estudo publicado por Gwinup em 1987,
comparando três atividades: caminhada, cicloergômetro e natação. O experimento
durou seis meses e o tempo das atividades foi aumentado até se chegar a 60
minutos diários.
Após o término do estudo, que não
envolveu restrições alimentares, as praticantes de caminhada perderam 10% do
peso inicial, as de ciclismo 12% e as de natação não perderam peso algum (na
verdade houve um aumento médio de 2,5 quilos), adicionalmente a análise da
composição corporal revelou que não houve perda de gordura nas nadadoras.
Uma das explicações para a suposta
ineficiência da natação na redução da gordura corporal está em um possível
aumento de apetite causado pela atividade, fato que alguns praticantes relatam
através da observação pessoais. No entanto, o estudo de Jang et al (1987) não encontrou diferenças entre a
ingestão de calorias de corredores e nadadores, e estudos em animais mostram
que as mudanças no comportamento alimentar decorrentes do treino de natação
podem ser positivas, diminuindo a ingestão de gorduras (Boghossian &
Alliot, 2000; Boghossian et al, 2000).
Isso também não parece ocorrer em
atletas, como mostra estudo realizado com uma equipe universitária de natação,
no qual foi verificado que o aumento de volume e intensidade dos treinos não
era acompanhado por um aumento proporcional da ingestão calórica, levando a
redução da gordura corporal (Barr & Costill, 1992).
Em de 1999, Lambert et al compararam a ingestão de energia 02 horas após 45 minutos de natação ou corrida (a 71,8% do VO2máx) em triatletas bem treinados e verificaram que não havia diferença na percepção de fome nem na ingestão calórica após as atividades.
Um possível efeito agudo no metabolismo também não pode ser usado como justificativa. Em um estudo de Flynn et al (1990), foram comparados os efeitos da corrida e da natação (45 minutos a 75% do VO2máx) no metabolismo durante as duas horas seguintes às atividades. Os resultados mostraram que o gasto calórico tanto no exercício quanto no repouso era similar nas atividades, no entanto, o taxa de troca de gases sugere uma maior utilização de gordura para natação.
Em de 1999, Lambert et al compararam a ingestão de energia 02 horas após 45 minutos de natação ou corrida (a 71,8% do VO2máx) em triatletas bem treinados e verificaram que não havia diferença na percepção de fome nem na ingestão calórica após as atividades.
Um possível efeito agudo no metabolismo também não pode ser usado como justificativa. Em um estudo de Flynn et al (1990), foram comparados os efeitos da corrida e da natação (45 minutos a 75% do VO2máx) no metabolismo durante as duas horas seguintes às atividades. Os resultados mostraram que o gasto calórico tanto no exercício quanto no repouso era similar nas atividades, no entanto, o taxa de troca de gases sugere uma maior utilização de gordura para natação.
Considerações finais
Apesar de ainda não existir uma
explicação para o fenômeno, a literatura atual não fornece suporte para a
crença comum de que a natação seja uma “excelente” atividade para perda de
gordura, não havendo evidências de sua superioridade sobre as demais.
Entretanto ainda é necessário estudar as variações metodológicas para se ter
uma posição mais precisa quanto à real eficiência da atividade, antes de
rotulá-la como ineficiente.
Certamente a natação é uma
atividade excelente, sendo útil para diversas situações, especialmente como uma
forma de lazer e de segurança, no entanto ela vem sendo prescrita de forma
generalista por profissionais desinformados. Com a crescente popularidade deste
esporte, profissionais acomodados vêm enxergando-a como uma panaceia*
para casos de problemas articulares, osteoporose, obesidade, perda de peso e
diversas outras situações onde ela pode não trazer os resultados esperados
quando comparada com outras atividades.
É importante que a natação seja
praticada e recomendada pelos diversos benefícios que ela pode realmente
produzir, no entanto deve-se ter cuidado para não se prescrevê-la de maneira
irresponsável, o que pode afastar o aluno dos resultados e eventualmente
rotular esta atividade como “inútil”.
* pa·na·cei·a
substantivo feminino
1. Pretenso remédio universal para todos os males físicos e morais.
2. [Figurado] Tudo aquilo que se considerava válido para resolver qualquer problema.
3. [Botânica ] Planta da família das solanáceas.
"panaceia", in Dicionário Priberam da Língua
Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/DLPO/panaceia [consultado em 01-06-2016].
Fonte:
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