Segurança é um dos principais itens para acontecer uma prova de Águas Abertas, tanto como modalidade quanto como prática não-formal. Quem está por dentro das Regras Oficiais sabe que diversas medidas estão previstas para assegurar não só a realização de uma competição, como também da integridade de cada um dos atletas ali inscritos. Será que vale a pena abusar da sorte e jogar nas costas de Deus? O que se poderia fazer diante de um quadro adverso?
Não é de agora que atletas podem enfrentar situações inesperadas diante da "mamãe natureza" em provas de Águas Abertas. Quando um atleta sofre um corte no olho provocado por unha grande; quando torce o pé ou sofre uma cãibra pela puxada de alguém logo após a largada; quando leva uma cotovelada mesmo involuntariamente ou quando a labirintite atrapalha sua orientação entre boias, ainda sim se pode encontrar condições, ou de completar a prova ou de ser resgatado pela equipe de apoio. Porém, quando o clima fecha de repente, fazendo cair uma tempestade inesperada, aí não se pode jogar na sorte do "se Deus quiser...".
Enquanto na natação em piscina o atleta é desafiado pelo tempo cronometrado, em Águas Abertas o desafio é bastante variado e é isso que torna esta modalidade especial. Os desafios vão além, quando nadar em águas abertas exige: não poder se apoiar numa borda, ter que se orientar fazendo sua própria navegação, estar pronto para o sobe-desce de ondas no mar, usar óculos o mais nítidos possíveis para visualizar boias a 400 metros de distância, ter planos B, C, D... enfim, estar pronto para diversas situações provocadas pela natureza. É isso o que torna uma prova de Águas Abertas diferenciada para quem consegue completar a distância dentro das regras.
Tratamos aqui Águas Abertas como modalidade e voltamos à discussão de como práticas não-formais poderiam ser levadas a se enquadrar na modalidade. Para isso, o item que estamos abordando sobre segurança é imprescindível.
Fatalidades já marcaram desafios encarados por atletas de Águas Abertas e isso causa um sentimento como um "vácuo", diante do transtorno provocado. Atletas masters de natação também tiveram seus momentos de partida durante campeonatos importantes, isso sem contar jovens atletas que fatalmente foram acometidos por instantes repentinos (morte súbita).
De um lado, pode acontecer algum acidente, um movimento involuntário ou uma fatalidade. De outro, caímos na questão de como isso poderia ter sido evitado: se poderia haver indícios de irresponsabilidades. São a essas "irresponsabilidades" que é preciso estar atento.
Só de observar alguns eventos através de mídias em redes sociais dá pena saber como aquele número de atletas está sendo exposto ao risco. Uma coisa é uma fatalidade acontecer até mesmo provocada por forças maiores da natureza; outra coisa é perceber quando não existe o mínimo necessário para dar segurança àqueles atletas. Não precisaríamos ser tão "trágicos" assim, se notícias sobre acidentes ou mortes de natação no mar não gerassem esse tipo de reflexão. É preciso alertar os responsáveis e na medida do possível, tomar certas precauções pelo "bem maior" da integridade dos atletas.
A pesar disso, estatísticas demonstram otimismo. E é por esse motivo que é preciso tornar a modalidade o mais adequada possível às regras oficias. Se apelarmos para as estatísticas, os números continuam ditando absolutamente o quão importante é uma atividade física, especialmente ligada ao contato direto com a natureza.
Segurança é um dos itens mais mencionados nas regras oficiais de Águas Abertas. Talvez por isso, certos eventos possam custar mais caros do que fazer em piscina, quando é preciso que cada um dos atletas confirmados numa prova seja observado pela arbitragem durante todo o seu percurso. Além do Corpo de Bombeiros e de marinheiros da Capitania dos Portos alinhados à arbitragem avaliando as condições para acontecer uma prova em mar aberto, é preciso dispor de pessoal treinado para garantir integridade aos atletas antes, durante e no final da competição.
No sentido de elucidar melhor o item sobre "segurança" durante uma prova de Águas Abertas, expomos um resumo que levanta pontos importantes e que precisa ser conhecidos por todos os atletas, técnicos, arbitragem e organizadores. Reserve um tempinho para se alertar quanto ao modelo de "plano de segurança e requisitos básicos" para realização de um evento a seguir:
OWS REGULAMENTOS DE SEGURANÇA DA WORLD AQUATICS
PLANOS DE SEGURANÇA ESPECÍFICOS E
REQUISITOS DE EXECUÇÃO DA SEGURANÇA DA PROVA
Cada plano de segurança exigido pelo presente regulamento deve incluir os seguintes requisitos mínimos. A implementação destes requisitos é obrigatória para cobrir cada competição.
Reunião Técnica
(a) Os representantes dos atletas devem comparecer à Reunião Técnica. Se um nadador ou o representante do nadador não puder comparecer à Reunião Técnica, o nadador deve comparecer no briefing especial de segurança para participar da prova.
(b) Os tópicos de segurança que devem ser incluídos na Reunião Técnica incluem:
• explicação do layout do percurso e eventuais perigos
• marés, correntes ou outras condições da água
• vida marinha
• condições meteorológicas
• temperatura da água
• condições de qualidade da água
• descrição do método segundo o qual o Comité de Segurança vai monitorar os nadadores
• localização das embarcações de segurança
• descrição do apoio médico no local e disponibilidade de atendimento hospitalar
• sinal para socorro - flutuar de costas e levantar a mão para pedir assistência
• plano de evacuação para deixar a área de prova, incluindo a descrição dos sinais visuais e sonoros relacionados
(c) Um breve briefing de segurança pré-prova obrigatório para todos os nadadores, deve ser realizado antes da prova.
Monitoramento e resgate de nadadores
(a) Cada nadador deve estar sob a observação direta de pelo menos um membro do Comitê de Segurança ou Árbitro em todos os momentos durante a prova. A configuração do percurso determinará onde os observadores do Comitê de Segurança serão posicionados para observar os nadadores. Por exemplo, em um percurso aberto sem restrições físicas, e dependendo do tamanho do trajeto, é ideal ter uma embarcação de escolta com um observador assistente para garantir que cada nadador seja monitorado. No entanto, em uma competição realizada em uma estreita raia de remo, seria impraticável ter embarcações de escolta individuais no percurso, em vez disso, os observadores do Comitê de Segurança do HMF / OC podem ser capazes de seguir os nadadores caminhando ao longo da costa. Em outras circunstâncias, pode ser desejável organizar os observadores do Comitê de Segurança por zona. Sempre que possível, tendo em conta a disposição do percurso, As embarcações observadoras do Comitê de Segurança (barcos ou caiaques) devem garantir que todos os nadadores separados do grupo principal ou do nadador principal possam ser seguidos diretamente por um barco de segurança ou caiaque. A embarcação de segurança deve seguir o nadador ou grupo de nadadores a uma distância razoável, de modo a permitir uma intervenção imediata, caso seja necessária uma ação de segurança.
(b) Devem existir embarcações de segurança ou de escolta suficientes no percurso para reconhecer imediatamente quando um nadador se encontra em perigo e para iniciar uma resposta de salvamento imediata após observação ou notificação de que é necessário o salvamento de um nadador. Na maioria das configurações de prova, também deve haver embarcações de segurança estacionárias localizadas a cada 400 metros ao longo do trajeto, com um socorrista treinado em RCP e suporte de vida a bordo. Para conseguir isso, deve haver pontos de desembarque de resgate suficientes ao longo do trajeto e pessoal suficiente treinado em RCP e suporte de vida nas proximidades de cada nadador ou grupo de nadadores.
Comunicação de Segurança
(a) O Delegado de Segurança da World Aquatics e o Oficial de Segurança devem ter acesso imediato à comunicação bidirecional entre si: um com o outro; todos os membros do Comitê de Segurança designados para observar nadadores; todas as embarcações de segurança; pessoal em cada plataforma de alimentação; o Diretor Médico; o Árbitro Chefe; e outros árbitros da prova. A linha de comando é a seguinte: o Delegado de Segurança da Aquatics lida diretamente com o Oficial de Segurança e o Oficial de Segurança lida diretamente com todos os guarda-vidas tendo poder de mobilizar todo o pessoal médico quando necessário.
(b) Os membros do Comité de Segurança designados para monitorizar os nadadores devem também poder comunicar instantaneamente com todas as embarcações de segurança.
(c) São necessários rádios comunicadores ou outro equipamento com um canal ou número reservado para emergências, devendo igualmente estar disponível um sistema de reserva.
Contagem de Nadadores
(a) Cada nadador deve ter o seu número de prova claramente marcado no seu corpo. O Assistente de Percurso é responsável pela contagem de todos os competidores desde a largada da prova até que o último competidor tenha completado a prova com segurança. À medida que os nadadores se retirarem ou terminam a prova, o Assistente de Percurso deve assinalar cada nadador da lista de nadadores que largaram na prova.
(b) Nenhum nadador deve sair da prova por desistência, desqualificação, conclusão ou de outra forma - sem fazer a checagem com o Assistente de Percurso.
(c) Todos os nadadores devem usar, quando disponível, qualquer tecnologia de rastreamento
eletrônico que possa ser exigida como parte do plano de segurança aprovado.
Estações de alimentação
(a) Para cobrir competições grandes com mais de cinco quilômetros, uma estação de alimentação flutuante ou estacionária deve estar disponível pelo menos a cada 2,5 quilômetros.
Certificado de Liberação Local, Incluindo Qualidade da Água
(a) O percurso deve ser em águas sujeitas apenas a pequenas correntes ou marés e deve estar livre de obstáculos perigosos, poluentes e vida marinha perigosa.
(b) As autoridades locais competentes em matéria de saúde e segurança emitirão um certificado de liberação para a utilização do local. Em geral, a certificação deve estar relacionada à pureza da água e à segurança física por outras considerações. O certificado fornecido em conexão com o plano aprovado deve ser atualizado dentro de setenta e duas horas do dia da prova.
Temperatura da água
(a) A temperatura da água deve ser medida 2 horas antes do início da prova e deve ser de, no
mínimo, 16 °C e máxima de 31 °C. A temperatura da água deve ser certificada pelo Delegado de Segurança da World Aquatics e pelo Oficial de Segurança, medida no meio do percurso, a uma profundidade de 40 centímetros.
(b) A temperatura da água deve ser monitorizada como acima previsto a intervalos de uma hora durante a prova. Se a temperatura da água descer abaixo de 16 °C ou exceder 31 °C em qualquer um dos intervalos de medição, a temperatura da água deve ser medida novamente em 30 minutos e, se essa medição for também inferior a 16 °C ou exceder 31 °C, a prova deve ser interrompida.
Serviço Médico
(a) A organização deve nomear como seu Diretor Médico um médico com experiência na prestação de cuidados médicos durante eventos de longa duração. Outros membros da equipe médica da organização devem incluir indivíduos suficientes com treinamento de emergência (suporte básico de vida e RCP) para o pessoal dos barcos de segurança estacionados e da instalação médica do local.
(b) A instalação médica no local deve incluir equipamentos básicos de emergência e trauma, DEA e quaisquer instalações de aquecimento ou resfriamento exigidas pelo plano de segurança aprovado.
(c) Uma ambulância deve estar disponível no local ou de plantão a cinco minutos do local. Uma ambulância de reserva também deve estar disponível no local ou de plantão há 15 minutos do local.
(d) Se o tempo de deslocação da ambulância entre o local e o hospital mais próximo com instalações de urgência for superior a uma hora, o plano de segurança exigirá disposições para o transporte por helicóptero.
Segurança durante o treinamento. Aquecimento pré-prova e soltura pós-prova
(a) A organização deve fornecer monitoramento de segurança no percurso durante as horas de treinamento estabelecidas. Nenhum nadador será autorizado a entrar no trajeto da prova durante o treino sem uma embarcação de escolta. O monitoramento dos nadadores pelos observadores do Comitê de Segurança do HMF/OC também deve ocorrer durante os aquecimentos, pré-prova e a soltura no pós-prova.
Plano de Evacuação do Percurso
(a) Cada plano de segurança deve incluir um plano de evacuação do percurso que permita retirar rapidamente em segurança todos os nadadores e pessoal de prova na água sob emergência.
Importantes dicas para atletas que buscam essa modalidade de esporte. Parabéns pela matéria 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirDetalhe: esse modelo de "plano de segurança e requisitos básicos" está disponível nas Regras Oficias de Águas Abertas traduzidas e publicadas pela CBDA.
ResponderExcluirLink: https://sge-aquaticos.bigmidia.com/_uploads/regras/regrasDeAguasAbertas2023.pdf