[publicado originalmente em 15 de abril de 2020]
Não, este artigo não vai fazer qualquer referência que comprometa o Exmo. Pte. da República Federativa do Brasil. Por mais que se tentasse o máximo de neutralidade, nem mesmo os menos patéticos jornalistas esportivos conseguiriam tamanha proeza – é bom que se assuma. Quem sabe o resultado da neutralidade fosse conivência ou concordância, quem sabe implicasse um estado de puritanismo jamais visto, um puritanismo que colocasse até mesmo a água em questão: Se o Hidrogênio "dança" na superfície entre as moléculas, por que H2O e não HeO?
A "autoridade" da Ciência se arraiga na experimentação. A linguagem é nosso estado de "pré-conceito" que concebe a razão, para daí se desencadear o conhecimento (cf. I. Kant). Longe de qualquer concepção filosófica, num espaço dedicado ao esporte, muita coisa nem precisaria de tamanho aprofundamento, se natação fosse mera superfície. Perdoem-me os relapsos, mas minha visão "metafísica" da natação não me faz excluir aqueles 15 metros submersos permitidos nas regras oficiais. É naquela fase submersa que temos o terceiro momento mais veloz de uma prova após a largada e cada impulso numa virada. E quem não souber aproveitar aqueles 15 metros, às vezes não consegue se recuperar nos 35 restantes.
A fase submersa implica aprofundamento. Mas antes, é preciso aceitar submeter-se à predisposição de treinar cada vez mais de forma apurada. Ao se predispor a treinar, o atleta sabe o quanto aprofundar-se pode surtir sucesso. Pode acontecer, sim, de um atleta "super forte" ignorar a fase submersa e se impor na prova apenas na superfície. Em quase tudo, há exceções, na natação não seria diferente. Mas, como se referir ao Presidente se torna uma exceção, nosso objetivo não é a exceção, mas sim o senso comum de como qualquer um ascende à presidência, ou melhor, desculpe, como qualquer um pode realizar a fase submersa com excelência.
Existem estórias e histórias de exceções na natação que conquistaram sucessos incríveis a nível olímpico. Aquela coisa incrível exatamente naquele momento impressiona qualquer um. Mas o que mais me impressiona nunca foi uma exceção com tamanha exclusividade: sempre foi a vitória do comum. É saber que por mais que a natureza lhe tenha presenteado desde nascença com algum dom exclusivo, como p.e. o ex-nadador campeão olímpico Ian Thorpe, nem por isso sua exclusividade deixou de se submeter às regras comuns. A exclusividade de Michael Phelps impressiona, mas o comum do sul-africano Chad Le Clos nos 200 borboleta; o comum do cingapuriano Joseph Schooling nos 100 borboleta ou o comum de Thiago Pereira nos 400 medley de Londres 2012 me impressionam muito mais.
O simples fato que do comum se tira a vitória além de qualquer exclusividade. Se de exclusividade em exclusividade sobrevivesse a natação, nenhum nadador comum jamais ousaria manter um recorde mundial desde 2009 nos 50 metros Livre. Acostumamos a esta entropia que do comum surge a exclusividade. Do contrário, dizer que ter dois elétrons em órbita é um átomo de Hélio (He) beira a mais estúpida idiotice, se cada elétron pertencer a um Hidrogênio (H) ligado a um átomo de Oxigênio (O). Parece sem sentido, assim como quem pegou a tabela periódica uma vez e achou que podia cuspir no diploma de um médico. E eu ainda não me referi ao Exmo. Pte. da República Federativa do Brasil.
Mas uma boa notícia vem justamente de uma contradição. Estranhamente, algumas florestas reaproveitam suas próprias queimadas para fazer surgir nova flora. Estranhamente, surtos virais surgiram na História da Humanidade para "limpar" o excesso que assolava o planeta (...). Nada tão apocalíptico ou estranhamente normal quanto aceitar as condições determinantes nas regras, nas regras da Natureza que a gente às vezes esquece de ler nos livros. E o que o presidente teria a ver com isso? Nada demais. A questão nunca foi o presidente, mas sempre foi quem usou linguagem contra a razão, quem trocou Hidrogênio por Hélio na fórmula da água (H2O) e quem jamais aceitou que o comum pudesse vencer e se tornar exclusividade.
Ainda é possível vislumbrar aquele "menino-Deus" brincando de desenhar com o lápis num papel e quando viu que tinha muito erro, joga o papel fora e começa tudo de novo... "Santa mãe Natureza, rogai por nós e por nosso presidente".
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