Pessoal:
Meu pai esteve hospitalizado com problemas de saúde nos últimos 45 dias e no domingo, 25 de setembro, sofreu o 3º infarto, quando os médicos indicaram que só “Deus” o salvaria. Precisou de uma cirurgia de emergência e para quem foi assalariado a vida toda, mas nunca desistiu de sua fé, incrivelmente “as portas foram se abrindo” contra toda crença de que seria o fim. Mesmo tendo os filhos condições financeiras para bancar os cuidados médicos, as coisas foram acontecendo de uma forma, como se “Deus” dissesse: “Não preciso do teu dinheiro”. E assim, nossa fé foi desafiada sem precisar gastar um centavo.
Após conseguirmos vaga no Hospital Rio Grande, a cirurgia ainda teve que esperar mais uma semana, devido o médico ter avaliado que o coração do meu pai estava fraco, sendo mantido por medicação e aparelhos, e talvez não pudesse suportar a cirurgia. Contra toda adversidade, meu pai enfim mergulhou numa das provas mais arriscadas que eu mesmo nunca desafiei, nem quando cheguei tonto a primeira vez que concluí os 1.500 ou mesmo, quando minhas pernas ficaram bambas ao ter nadado a primeira vez os 400 medley. Essa prova era dele, só ele e a vontade de viver.
Graças a Deus, as cirurgias altamente delicadas de ponta de safena e mamária e correção do C.I.V. (comunicação intraventricular) foram um sucesso e hoje, estou podendo voltar à ativa no ambiente aquático. Meu pai desafiou as estatísticas e hoje se recupera tranquilamente.
Que os atletas, técnicos e equipes destaques no NNE Walter Figueiredo, os universitários nos JUBs, os masters no circuito da FAN, os garotos das escolinhas e a diretoria a FAN possam compreender meu afastamento nos últimos dias. Existem provas na vida cuja medalha é apenas um sorriso e um abraço de pai.
Meu pai e minha relação com a natação
Francisco Canindé Rodrigues nasceu em 1956, em Natal/RN, e levou uma vida simples. Sempre gostou de esportes. Quando eu era garoto com uns 08 ou 09 anos de idade, meu pai sonhava em me colocar num grande time de futebol para de lá ser seleção brasileira. No entanto, quando eu já tinha uns 10 anos de idade, sofri um trauma de afogamento e desde esse dia, minha prioridade foi aprender a nadar. Queria nadar apenas para “não morrer afogado” e nunca tinha imaginado chegar ao ponto de desafiar os melhores nadadores do RN com inúmeras medalhas que conquistei ao lado deles.
Para uma família humilde lá da década de 1980, natação era sonho de consumo, era coisa de elite surreal. Algumas atitudes que intuí em família afloraram na época de escolinha e talvez isso tenha causado a diferença para desistir do futebol, aliado ao fato das oportunidades em si.
As coisas tiveram que ser assim, não tão “alinhadas” como devia ser para qualquer nadador que chegasse a uma olimpíada. Eu mesmo admiro muito alguns adversários de época, de como eles tiveram facilidade em desenvolver o nado, quando eu precisei de muito esforço pra sair do canto. Em outras palavras, talvez nem tivesse tido aptidão para competir no alto nível, se todo aquele esforço tivesse sido empregado no futebol.
Mas estou aqui, produzindo conteúdo para a comunidade aquática, destacando atletas, técnicos e equipes, porque também havia descoberto o gosto pela leitura e produção textual, assumindo a responsabilidade de buscar manter a comunidade aquática atualizada. Eu só sei que sempre existiu essa forte influência de meu pai e do seu jeito de ser na minha vida esportiva, por mais que os caminhos tivessem me encaminhado pra natação. E estou aqui, pronto para mais um “às suas marcas...” (“Take your marks”).
Um dia antes da cirurgia, ao estar terminando sua penúltima visita, meu pai me olhou e me deu um abraço, dizendo: “Somos mais que vencedores”. Podia parecer uma despedida, mas era o recomeço de uma nova oportunidade.
Fico feliz de saber que seu pai está se recuperando! E parabéns pelo belo texto, muito tocante!
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