Estamos prontos para um recomeço? - Natação do RN

Natação do RN

Na piscina ou no mar,
o melhor da natação potiguar

Estamos prontos para um recomeço?

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Atletas, técnicos, equipes, árbitros e entidades oficiais que formam a comunidade aquática estão ansiosos para o recomeço das competições com a temporada oficial das modalidades aquáticas, em especial a natação. Diante de diversos desafios enfrentados com a pandemia de covid-19, considerando o atual quadro de liberação, inclusive, do uso de máscaras, estamos diante de novos horizontes. Não fazemos "vista grossa" dos problemas que encaramos até 2019, mas fato é que precisamos ponderar decisões tomadas e até mesmo, na medida do possível, reconhecer alguns rumos fora de propósito. Isso faz parte do processo, se quisermos alcançar o sucesso de uma conquista, seja numa prova, seja por equipes. Recomeçar é humano.


A base
A família é a base para o sucesso. A partir de laços psico-emocionais familiares, é bem mais perceptível o número de medalhas olímpicas de países europeus, norte-americanos e orientais do que em locais do "terceiro mundo" cujas famílias estão mais preocupadas com as contas do fim do mês do que com os centésimos de uma prova. Então, você poderia até ironizar, dizendo que a natação não seria um esporte de elite? Bem, existe como demonstrar que a dita "elite" está muito mais preocupada com as notas numa universidade, copiadas ou coladas, do que propriamente com o nível intelectual de quem teria maior poder aquisitivo. Isso nos nivela do outro lado da balança, de modo que já se percebe que ter condições financeiras nem sempre determina sucesso garantido numa competição e na vida. E competição é o que queremos. Talvez mais que isso, queremos mesmo é condições de competir de igual pra igual.

E quando as condições financeiras não forem suficientes, existem ingredientes bem mais "poderosos" para o sucesso e a vitória, que estão na base familiar. Além disso, é bem verdade que a relação de um atleta com o professor de escolinha ou técnico de natação também pesa no resultado. E isso pode ser compensado, inclusive, quando a família não vai bem, quando há impeditivos ou barreiras que dificultem o sentido de acreditar no seu próprio potencial. É aí que deve entrar o contrapeso preponderante de um técnico, se vale à pena apostar naquele potencial do atleta. Muitos atletas abandonam ou trocam de esporte, às vezes pela piadinha mal colocada, no exato momento errado de um professor ou técnico. Ou seja, se algo não vai bem na família e isso se junta ao descaso de um técnico, lá se vai embora mais um talento jogado fora. E o Brasil não só estraga comida, como também é especialista em estragar talentos.

Acontece que há bem pouco tempo uma ação para identificar talentos desde a base me chamou atenção. Ainda que fizesse parte de um estudo de doutorado, identificando minúcias até como o menino se relacionava com a família, fato é que por mais que se pretendesse mensurar uma tendência para revelar talentos de forma científica, ainda sim sobejava o número de atletas desperdiçados nos esportes aquáticos. Ora, se no país do futebol, inúmeros talentos são perdidos para o tráfico e a violência, imagine na natação! Como a formação de base tem sido considerada importante tanto quanto o topo de um atleta olímpico?


RN tem muito mais do que se imagina
Em 2021, o RN foi o 3º estado dos 27 do Brasil que mais cresceu economicamente, segundo levantamento da MB AssociadosSomos um estado pequeno: Dos 27, o RN é o 22º em área territorial e 17º em população. A pesar disso, somos o 18º estado mais rico economicamente de todo o Brasil, conforme a WikipediaDefinitivamente, não teríamos nada a comparar com qualquer estado do Sul/Sudeste [além de nossas exuberantes belezas naturais]. Isso, na geografia somente. E natação?

Temos sorte de alguns levantamentos terem atualizado nossa lista dos maiores "orgulhos" da natação potiguar, isso se você considerar modalidades como ciclismo, triatlo, atletismo e até futebol. Quantos jogadores saíram daqui direto pra seleção brasileira e quantos são campeões do mundo? Aliás, quantos jogadores de futebol do RN são medalhistas sul-americanos? Para ser mais moderado: quantos jogadores nascidos no RN são campeões brasileiros na série A?

Por outro lado, você sabia que o RN tem nadadores inscritos nos anais do Comitê Olímpico Internacional e na Federação Internacional de Natação? Sabia que temos Top 10 FINA Master? Temos também nadador olímpico e campeão mundial; recordistas mundiais e campeões sul-americanos masters. Além disso, sabia que temos campeões pan-americanos, sul-americanos e brasileiros de categorias diversas? Sim senhor, desde o petiz até aqueles que chegaram à categoria 70+.




Quem faz a competição é você
Sim é você quem faz a competição. Mas para fazer a competição, isso exige que façamos a diferença. Ou, será que o atleta faz a diferença sozinho? Estamos a procura de um acaso da sorte, enquanto assistimos a países de primeiro mundo colocando dois atletas nas finais de uma olimpíada? Se você não entendeu o recado, vamos para as estatísticas de frente pra trás.

Para produzir atletas de elite e colocar dois atletas numa final olímpica, quantos atletas daquele país não disputaram as eliminatórias? Se a concorrência determinou resultados competitivos, deduza comigo: quantos outros atletas não brigaram para chegar nas eliminatórias? E quantos ainda não estão competindo na base? Para fechar a pirâmide: Quantos atletas não estão sendo filtrados na base por seus talentos? E para que um atleta seja filtrado, quantos outros ainda não foram instigados a começar a fazer natação?

Isso é perceptível facilmente no futebol brasileiro. O que se torna lastimável é que é só isso o que temos, diante de um vasto leque de modalidades esportivas, sem contar a natação. No entanto, se a gente se detiver nessa lástima com aquela síndrome de vira-lata institucionalizada (só os outros países seriam melhores do que nós), não faremos muita diferença nem mesmo na vida de nossos grandes atletas. É preciso se desdobrar. É preciso reagir sim, mas com certa moderação, vale dizer. O contorno do "Titanic" é lento, mas "antes tarde do que nunca".


Mas quem produz o ambiente competitivo não é você
Sinto muito em ser sincero, mas é verdade. Você pode estar "tinindo" de vontade de soltar o braço, mas você sozinho numa raia é só você e somente só. Por mais que você faça a competição, quem produz competitividade sempre será seu adversário, com o árbitro na borda da piscina e com seu técnico de olho nos seus erros estratégicos. Ah sim, seu técnico deveria saber até mais do que eu: Quanto mais adversários você tiver, mais competitiva fica sua prova. E quanto mais competitiva for sua prova, maior será sua tendência de reação positiva diante de inúmeras situações.

Bem, se a competitividade se mede pela variabilidade de dificuldades numa prova, o que poderia caracterizar situações de provas em que um ou até dois atletas brigam por uma medalha? Observe que o mérito será devido: cumpriu às regras, completou a prova, mereceu a medalha e fez ponto pra equipe. Por outro lado, e quando se acostuma a situações repetitivas? Quando aquele atleta lá do petiz ou do infantil se acostuma a nadar com poucos ao seu lado, a questão direcionada especialmente aos técnicos é: Já pensou na implicância psicológica que isso irá desencadear com o tempo naquele garoto?

Não estamos tratando de competições em que poucos atletas se inscreveram por força das circunstâncias. A questão é quando aquele técnico busca pontuação exclusiva pra sua equipe e não mede as consequências de um garoto evitar competir provas com 08 ou 10 atletas, só pra fazer pontuação noutra prova sozinho. Lá no futuro, de quem seria a responsabilidade por neuroses desenvolvidas por medos de relacionamentos ou entraves em ambientes de trabalho causados por experiências isoladas na natação?


Damos e daremos a volta por cima
Nossa natação poderia sim ser melhor do que está, isso se você se comparar a países de primeiro mundo. Que esses países nos sirvam de exemplo sim. No entanto, não seja por isso que havíamos de esquecer o que Platão disse acerca da natação e sua relação com a "felicidade". Não é preciso ir muito longe para ser feliz. É aqui mesmo que você encontra oportunidades de dar a volta por cima.

Nossos maiores campeões têm, cada um, uma história de superação para contar. Até mesmo eu [blogger] teria uma longa história de superação para contar, quem sabe numa oportunidade melhor (...). Pois, parece ser marca registrada do potiguar assemelhar-se a uma roseira quando cortam uma flor: Vai lá e produz mais flores ainda. Com certeza, esse "orgulho" de dar a volta por cima não é pecado, é vida que abrilhanta ainda mais a vida.

Contudo, instigar nossos atletas e equipes a se superarem e a aproveitarem o que há de melhor em cada experiência de competição também passa pela sintonia de "comunidade aquática". Seja master, seja comissão técnica: esses garotos merecem mais do que dar a volta por cima, pelo exemplo que se dá: eles merecem um legado. E o legado se faz aqui em nossas piscinas e em nossas praias, em cada série, em cada centésimo, em cada pódio e em cada experiência de competição.

Estamos prontos para um recomeço?




Um comentário:

  1. Texto bom, dá para expandir o sentido para além da natação. Eu pensava muito isso com respeito a artistas, também, quantos grandes pintores estão perdidos aí nas periferias.

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