Entrevista
cedida ao site da CBDA revela um dos maiores expoentes da natação de fundo do
Brasil, que brilhou nas décadas de 1970 e 80, culminando no bronze nas
Olimpíadas de Moscou 1980. Estamos falando de Djan Madruga.
Créditos: CBDA |
Quem
diria que uma semi-tragédia daria início a uma carreira vitoriosa que
culminaria em uma medalha olímpica. A história que poderia ter sido totalmente
diferente é de um dos nadadores mais vitoriosos da natação brasileira e que, em
certo momento de nossa história, era considerado o mais completo da modalidade.
Acompanhe o bate-papo com o medalhista olímpico de 1980:
Você
começou a nadar aos seis anos de idade, após quase ter morrido afogado. Como
foi esse acidente e como você acha que ele foi determinante para você chegar
aonde chegou?
Essa
quase tragédia foi fundamental na minha carreira, pois minha família ficou
muito preocupada com o meu afogamento e decidiu que eu tinha que aprender a
nadar para poder me defender. Então, me matricularam em uma escola de iniciação
de natação da UFRJ na Urca, depois, identificaram que eu levava jeito para o
esporte e me encaminharam para o Botafogo, onde eu comecei a competir aos 07
anos. Dez anos depois, estava em uma Olimpíada, não é fantástico?
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O
que você lembra em detalhes e a quem credita esse início na natação?
O
meu início foi muito prazeroso. Eu me diverti muito com a natação e, quando me
encaminharam para o Botafogo, logo no meu primeiro ano eu já comecei a
participar de competições internas. Ganhei minha primeira medalhinha, depois
participei de competições federadas e cheguei a algumas medalhas, inclusive
ganhando o campeonato Estadual de petizes. Foi aí que percebi que eu podia ter
sucesso nessa carreira esportiva e decidi me dedicar para valer à natação.
Com
apenas 15 anos você já começou a se destacar internacionalmente. Foi ali que
você começou a levar a natação como profissão?
Na
verdade, foi um pouco antes. Com 12 anos, tive uma frustração muito grande
quando eu nadava no Botafogo, pois eu perdi um Campeonato Sul-Americano
infanto-juvenil, fui o primeiro reserva e isso criou uma frustração grande.
Decidi, então, mudar de clube, fui para o Fluminense e lá encontrei aquele que
seria o meu grande treinador: Denir de Freitas, que era um especialista em
treinamento de fundo, uma modalidade que eu levava mais jeito pela minha
característica física e, nos dois anos seguintes, eu me dediquei muito para as
provas mais longas. Aos 15 anos, bati meu primeiro recorde sul-americano de
1.500 metros e, nesse mesmo ano, bati também os 800m e os 400m. Com isso,
cheguei na Olimpíada dois anos depois com apenas 17, naquela época a gente ia
para as Olimpíadas bem mais cedo do que hoje em dia e terminava a carreira
esportiva também bem mais cedo, você com 25 anos já estava basicamente
velho para o esporte.
Créditos: CBDA |
Você
foi detentor de vários recordes, era considerado um nadador completo por nadar
em várias distâncias. Qual era a sua preferida? Por que?
Com
base na minha fisiologia, posso dizer que eu tenho uma constituição bem
dividida de fibras tanto vermelhas de fundo, quanto brancas de explosão, então
eu nadava bem dos 1500 até os 100. Tanto que acabei, aos 21 anos, sendo
recordista sul-americano de todas as distâncias do nado livre, de medley, de
costas e até brasileiro dos 200 borboleta, mas a prova que eu mais gostava
mesmo era a dos 800 metros livre, que não era uma prova Olímpica, nem de
mundiais. Nesta prova, eu acredito que tenha conseguido o melhor resultado na
minha carreira que foram os 7:59.85, em 1980, sendo o primeiro homem nas
Américas abaixo dos oito minutos superando inclusive os americanos que ainda
não tinham nadado abaixo dos 8 minutos até 1980.
O
que você lembra em detalhes do dia da medalha olímpica?
Sem
dúvida, é uma lembrança que a gente nunca vai esquecer, mas, quando falo disso,
tenho que ressaltar que, sem os meus companheiros do revezamento 4 x 200m, essa
medalha não teria saído. Tenho sempre que agradecer muito ao Jorge Fernandes,
Marcus Mattioli e ao Cyro Delgado que foram meus companheiros nesse momento
memorável das nossas vidas.
Imagino
que o dia da medalha olímpica seja um dos mais especiais da sua vida. Como você
classificaria em uma palavra?
Foi
um momento de realização profunda. Me Lembro até hoje de nós quatro no pódio e
a bandeira do Brasil sendo hasteada. Então esse é um momento inesquecível, o
coroamento de um objetivo de vida , pois quando comecei a me ver como nadador
queria ir a uma Olimpíada, depois que fui a minha primeira, em Montreal, e
cheguei à final passeia acreditar muito que uma medalha olímpica era possível e
tê-la conseguido quatro anos depois, em Moscou, foi uma enorme
realização. O meu momento divino na Terra. É preciso lembrar que, naquela
época, as coisas eram muito difíceis. O Brasil só tinha na sua história 19
medalhas olímpicas entre todos os esportes, ou seja, a nossa foi a vigésima
medalha da história do esporte brasileiro em Jogos Olímpicos, realmente foi um
tremendo feito para a época.
Créditos: CBDA |
Durante a sua carreira, você foi quebrando vários
recordes. Como manter-se motivado a quebrar recordes atrás de recordes?
Eu me divertia muito. Adorava competir, ganhar e
nadava várias provas e distâncias, pois como eu tinha essa habilidade de nadar
basicamente todos os estilos e distâncias, o único que eu não andava muito bem
era o peito, mas isso não me impedia de nadar um bom medley, tanto que fui
quinto lugar em uma Olimpíada nos 400 medley e ganhei o nacional americano
nessa distância também, mas a verdade é que a natação naquela época era coisa
mais importante para mim e eu me realizava com ela, foram bons dez anos da
minha vida dedicados a seleção brasileira e a bater recordes.
Depois de algum tempo, surge um novo talento de
fundo no Brasil. O que você acha do Guilherme Costa? Qual conselho daria para
ele chegar aonde você chegou?
O Guilherme eu acompanho a carreira dele desde
pequeno, pois meu filho nadava também na equipe dele mais ou menos na mesma
época com o treinador Kafu, lá no Parque Aquático Maria Lenk e o que eu tenho a
dizer para ele é primeiro parabenizá-lo pelo feito, pois entrou para história
como primeiro homem abaixo 15 minutos no Brasil. Agora, tem que focar em
corrigir erros do meio de prova, treinar muito, treinar muito e treinar muito e
não descansar sobre louros e tentar levar até o mais longe que puder e tenho
certeza que ele vai ter muito sucesso na carreira dele, porque é um jovem que
gosta de treinar duro, não tem medo de sentir dor o que é a característica de
um grande fundista.
Quais são seus planos para os próximos anos?
Eu esportivamente continuo competindo como master e entrei nesse ano na
faixa dos 60+ e esse momento é muito interessante, porque a gente no início da
faixa fica apto para ganhar algumas competições internacionais e bater quem
sabe alguns recordes mundiais e eu estou focado esse ano em participar dos
Jogos Pan-americanos Master, em julho e no ano que vem no Mundial da Fina.
Profissionalmente, tenho uma academia própria de natação e ginástica no RJ, que
acabou de completar 20 anos, estou também envolvido numa empreitada muito
grande que é a realização dos Jogos Pan-americanos Master de todos os esportes
no Rio de Janeiro em 2020. Estou também na CBDA ajudando no projeto de bolsas
com a Universidade Estácio para atletas de todos os esportes aquáticos, um
projeto que eu iniciei há quatro anos e que hoje beneficia cerca de 80 atletas
e colaboradores que conseguem cursar o ensino superior com bolsa integral. Por
fim, estou envolvido com capacitação de treinadores de natação, pois trouxe, em
2014, o curso da ASCA para o Brasil e já certificamos 140 treinadores de
todo o Brasil desde então.
Entrevista disponível no site da
CBDA, acesse o link.
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