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Se metade do Brasil busca autoridade paterna num presidente, 100% já perdeu

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[Extraído de Luíza Sahd, Colunista do UOL,
link da fonte ao final da postagem
comentário do blogger ao final]


Não há brasileiro que não esteja esgotado das eleições de 2022. Pudera: a sociedade civil não consegue entrar num acordo sobre o que deve ser cobrado de um chefe de Estado. Metade da população pensa como o presidente da República, que acredita ser sua atribuição, acima de qualquer outra missão, proteger os valores da família e de uma tal liberdade que, em última análise, seja licença para usar todo tipo de violência — verbal ou institucional — contra qualquer oposição às suas ideias.

Em uma democracia saudável, a principal habilidade de um presidente é a escuta. Quando o objetivo é governar para todos, a função do chefe de Estado é escutar, inclusive, seus opositores. País que anda pra frente é país onde as pessoas têm dignidade e necessidades básicas garantidas. Em outras palavras, bom presidente é aquele que melhora a vida até de quem ele não gosta.

Quando uma corrida presidencial é pautada basicamente por cinco fake news sobre costumes — legalização das drogas, de aborto, banheiro unissex em escolas e fechamento de igrejas —, fica a impressão de que não estamos pensando em rumos para um país, mas que estamos batendo boca no churrasco de um cunhado. E de que Jair Bolsonaro vem para dizer não a tudo, gritar que acabou a mamata, que quem responder vai ficar de castigo. Não há nada que ele faça com mais destreza do que isso. E, infelizmente, não há nada que faça menos diferença no desenvolvimento de uma nação.

Enquanto estamos discutindo se a Cássia Kis beijava mulheres e hoje faz discurso homofóbico, as pessoas continuam se amontoando embaixo de marquises para dormir, disputando ossos e pele de frango para comer e morrendo asfixiadas, enquanto a figura do pai idoso debochado imita alguém se afogando de covid-19.

Como um bom pai autoritário faria, o presidente se nega a pedir desculpas por tripudiar dos mortos sem oxigênio, mesmo que haja quase 700 mil famílias brasileiras enlutadas pela pandemia. Para o pai autoritário, o inferno é o limite no tocante ao respeito pelo próximo.

Por último e não menos importante, nenhum presidente decide sobre legalização de drogas, aborto, banheiro unissex em escola ou fechamento de igrejas. Sendo presidente, Jair Bolsonaro sabe bem disso, mas optou por pautar sua campanha em pânico moral.


A quem interessa a figura do pai?
Em um recente episódio do podcast "Passado a Quente", apresentado pelo jornalista Rodrigo Vizeu, o cientista político, historiador e jurista Christian Lynch observa que a campanha bolsonarista tem foco total no discurso sobre ordem. O presidente sempre deixa clara sua veneração a figuras de autoridade: o sacerdote — seja ele pastor ou padre —, o chefe de família — que deve exercer total domínio sobre a mulher e os filhos —, o grileiro que ataca indígenas, quilombolas ou pequenos proprietários e a autoridade do homem armado em geral.

Lynch conclui que, em nome da "ordem", o presidente só emponderou desordeiros.

Essa fixação por pistolas e pênis — do grito de "imbrochável" à cena da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) apontando uma arma contra um homem preto em via pública, às vésperas do segundo turno — não tem muito como ser explicada, sem que a gente recorra à psicanálise. De onde quer que esteja no além, Freud deve sorrir satisfeito com a própria teoria a cada piada de Bolsonaro sobre tamanho de pinto, fraquejada ou galhofa com mulheres que não se curvam a ele.

A tônica dessa corrida eleitoral foi, muitas vezes, ditada por episódios de misoginia — da forma desrespeitosa como as primeiras-damas foram retratadas, passando pela tranquilidade com que Roberto Jefferson continua se referindo a Cármen Lúcia, ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) como "prostituta", "arrombada" e "vagabunda" e culminando com a sexualização de refugiadas venezuelanas de 14 anos, com quem Bolsonaro afirmou que "pintou um clima".

O bolsonarismo é um sucesso, indiscutivelmente. E mobiliza multidões porque reforça tudo aquilo que homens acovardados pela ascensão de mulheres querem ouvir. Que eles precisam mandar; que a gente precisa obedecer.

Que ninguém se engane. O discurso de combate à corrupção não é o que faz a cabeça da maior parte dos bolsonaristas. O segredo do encanto que figuras como Jair Bolsonaro exercem em tantos lugares do mundo está mais na ojeriza por tudo o que diz respeito ao feminino do que em genuíno senso de justiça. Pouca gente se interessa por justiça de verdade.

O que esteve em jogo nessas eleições não foi, absolutamente, o progresso do país, o avanço econômico ou direitos civis básicos. O que temos no momento é metade da população assustada pelo que pode acontecer sem a figura de pai autoritário que protege a seus filhos contra sabe-se lá qual bicho papão.

Em um cenário assim, perdemos todos mesmo, 100% da população, porque metade dos brasileiros espera um estadista, não um pai; a outra metade vai acabar frustrada, porque o que se espera de um pai um presidente jamais conseguirá dar — por muito que ele tente governar uma nação como quem toma decisões de veneta no quintal de casa.

Fonte: UOL


Comentário do blogger
O problema da eleição presidencial de 2022 nunca foi um candidato de esquerda ou muito menos de direita, se considerarmos historicamente qual relação dessas posições em vista do conservadorismo ou do progressismo. O problema é que o brasileiro leva muita emoção para uma área que deveria ter mais razão do que paixão, mais análise crítica do que adesão cega. E com isso, se arrisca a errar no objeto de suas crenças. Um judeu uma vez citou uma piada ironizando os cristãos, dizendo que são o tipo de ladrão que pede a Deus pra abençoar o roubo.

Podia-se pensar que a Idade Média ficou lá atrás da Revolução Industrial, mas o que se viu de 2018 pra cá foi o quanto a Idade Média ainda perdura no imaginário de quem não aprendeu a ser conservador dentro do processo de evolução natural, impondo sua vontade "acima de Deus e acima de tudo", como exemplo tosco e retardado. Acho que os seguidores de Freud agora devem ter razões mais que suficientes para inúmeras novas teses a serem estudadas, especialmente daqueles que antes diziam ser a Bíblia sua arma, mas agora fantasiavam demônios, à moda dos colonizadores quando se depararam com a nudez dos índios durante o "descobrimento".

Espetáculos à parte, está na hora de expor o saldo bancário do "presidente" que se vai, enquanto naturalmente a democracia brasileira se rearranja em favor de um equilíbrio entre direita e esquerda, longe de extremismos e longe da falta de humanidade. Se quisermos que este país se torne rico tal como reflete sua exuberância, quanto mais próximos do equilíbrio entre direita e esquerda estivermos, mais progresso e desenvolvimento teremos.

Ah, lembrando que aqueles 07 x 01 pra Alemanha vai continuar ferindo seu orgulho, enquanto você mesmo não arregaçar as mangas e fazer melhor do que aquela seleção vencida, enquanto sua "fé" for fraca a ponto de não acreditar que o Brasil pode fazer melhor. Não é palestra motivacional, mas isso não pertence nem a seu presidente, nem a seu ex-presidente: Isso pertence a você.

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