Em 1896 um nobre e idealista francês, Pierre Fredy
(1863 – 1937), o Barão de Coubertin, depois de um longo caminho em busca de um
sonho, conseguiu torná-lo realidade. Atenas viu renascer, depois de 1.500 anos
do seu banimento na Grécia antiga, o movimento olímpico com a realização dos
primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna.
Jovens homens de 14 países competiram em 09 modalidades
e tornaram-se protagonistas dos primeiros passos do olimpismo moderno. Foram 241 atletas que, no dia 06 de abril de
1896, no Estádio de Mármore (Panathinaico),
fizeram renascer os Jogos Olímpicos.
Enquanto a Europa e a América do Norte
Industrializada viviam a consolidação da revolução industrial (o proletariado
trabalhava 10 a 12 horas por dia, 07 dias na semana e 365 dias ao ano), o
esporte era uma das formas de lazer das classes dominantes. Os filhos homens
dos nobres, dos senhores da indústria, do comércio, dos meios financeiros, dos
latifundiários, os fidalgos e os jovens militares foram os atores exclusivos
dos Jogos de 1896.
As mulheres, retratando a estrutura social
patriarcal e excludente da época, não tinham ainda acesso ao esporte. Como
também não participavam em número relevante dos meios de produção, viviam para
os seus homens e para as suas proles. Provavelmente as mulheres, mesmo depois
de muitos séculos de história, ainda tinham, no final do século XIX, o mesmo
papel social daquelas de Esparta e Atenas quando da realização dos Jogos
Olímpicos da Grécia antiga.
Na mesma época acontecia na Europa e nos Estados
Unidos a chamada “primeira onda” do movimento feminista. Acesso ao trabalho, à
educação, ao direito de escolher com que se casariam e ao voto eram as bandeiras
principais de então. O acesso ao esporte certamente não estava entre elas.
Foto: Memória Paralímpica Brasileira |
As pessoas com deficiência, no final do século XIX,
ainda viviam segregadas na sociedade e, na maior parte das vezes, afastadas das
suas famílias. Os asilos de isolamento total, existentes desde a Idade Média,
vinham, pouco a pouco, dando lugar a hospitais, centros de reabilitação e a
escolas residenciais segregadas e exclusivas, onde a preparação para o trabalho
predominava quando comparada à educação escolar formal.
Portanto, o movimento olímpico da era moderna
nasceu elitista e exclusivo para os homens. Assim ele viveu também a sua
segunda edição em 1900, em Paris, na França. Nesses Jogos, um grupo de onze
mulheres se rebelou contra um regulamento que simplesmente proibia a
participação feminina. Elas foram a Paris e a organização lhes teria aberto
unicamente as modalidades de Tênis e Golf em torneios paralelos, isolados e
específicos.
Lazer, prazer, esporte eram, ao final do século
XIX, de acesso impensável para todas as pessoas com deficiência. O movimento
mundial das pessoas com deficiência por seus direitos e uma de suas
consequências – o esporte paraolímpico, viriam a reverter essa visão, mas isso
é para muito mais à frente na nossa história.
Fonte: Antônio
João Menescal Conde, in: Memoria Paralímpica Brasileira
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