Se o passado
reservou a Joana da Silva Neves (29) momentos de enfrentamento contra o
preconceito por seu nanismo, restrições de comida por sua pobreza e dores
agudas por suas quedas na rua devido a seus ossos enfraquecidos, o presente e
futuro apontam para conquistas históricas no esporte do país.
Do alto do seu 1.23 metros, a nadadora
paraolímpica potiguar é atual campeã mundial do 50m Livre (classe S5), ganhadora de
cinco medalhas de ouro nos Jogos Para-pan-Americanos de Toronto 2015, e um dos
nomes mais promissores para ir ao pódio nos Jogos do Rio.
“Minhas chances são boas. Vou fazer o
meu melhor e estou muito concentrada. O problema é conter a ansiedade, que é
muito grande. Quero que chegue logo”, diz.
Os Jogos
Paraolímpicos começam no dia 07 de setembro e terminam 11 dias depois. Mas
paciência e apoio familiar nunca faltaram na trajetória de “Joaninha”, como a
atleta ficou conhecida. Começou a nadar em 2003, aos 16 anos, por uma
recomendação médica.
“Quebrava demais ossos da perna, devido
ao meu tipo de nanismo (acondroplasia). Cheguei a fraturar o fêmur subindo uma
escada. Até que fui aconselhada a me exercitar na piscina. Melhorei 100% e
virei atleta”, conta.
Treinava a base
de força de vontade e de rapadura derretida que comia com água. O primeiro
maiô de competição foi emprestado de uma prima. Ela viajava para disputas com
R$ 10,00 no bolso.
“Comecei a ter bons resultados e consegui um treinador que me dava uma cesta básica todos os meses. Meu pai, que era alcoólatra, começou a deixar o vício e passou a me ajudar mais também. Vencer a fome era muito difícil, mas minha família sempre me incentivava”
As medalhas na
natação também ajudaram Joana a saber enfrentar melhor os olhares carregados
sobre sua baixa estatura e seus 36 quilos.
“Tinha vergonha de sair de casa, pois
era xingada na rua. Era muito constrangedor. Nem à escola eu gostava de ir. O
esporte ajudou minha autoestima, abriu meus olhos para enxergar que uma pessoa
com deficiência pode ser muito feliz”, disse.
Com a entrada na seleção brasileira
paraolímpica de natação em 2010 e com três bronzes nos Jogos Paraolímpicos de
Londres 2012 (50m Livre, 50m Borboleta e 200m Livre), Joana mudou radicalmente
de vida.
TRÊS REFEIÇÕES
Atualmente, a nadadora mantém a casa
onde mora e a dos pais no mesmo terreno, tem carro do ano, bom salário,
fisioterapeuta com atendimento domiciliar, acompanhamento médico semanal,
nutricionista e uma equipe de treinadores de primeira linha. Tem também à
disposição duas piscinas de treinamento e academia preparada para pessoas com
deficiência.
“Tenho orgulho de, hoje, ter as três
refeições em casa. Poder tomar um bom café da manhã e jantar antes de dormir.
Antes eu chupava o dedo para passar a fome. É gostoso também ser reconhecida na
rua, ser popular”
Tempo livre
quase não tem, pois treina de segunda a sexta-feira, revezando o nado na
piscina com atividades musculares e terapêuticas, mas brincar com a filha,
Janily Vitória (08 anos de idade), está entre seus hobbies favoritos.
“Ela já me ultrapassou na altura,
chegou a 1.24 metros e já nos divertimos muito com isso. Sou caseira, gosto de
sossego, de ficar com minha família. Também sou vaidosa. Uso muita maquiagem,
adoro salto alto, apesar de não poder usar com frequência para não forçar os
joelhos”
METAS
Para vencer multimedalhistas
paraolímpicas como a espanhola Teresa Perales e a israelense Inbal Pezaro,
Joana está tentando aperfeiçoar as saídas e melhorar a respiração nas chegadas.
Ela não revela sua “marca dos sonhos”, mas já conseguiu no 50m Livre tempo
melhor (38.36’’) do que o que a sagrou campeã mundial em Glasgow (38.39’’), na
Escócia, no ano passado.
“Só eu e meu treinador sabemos qual a
meta que pretendo atingir nas provas. Mentalizo sempre um pouco abaixo da marca
que trabalhamos. A partir da 0h (zero hora) do dia da disputa, me transformo.
Fico séria, fechada e concentrada. Não tenho superstições, apenas deixo de ser
a Joana brincalhona para ser a competidora”
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