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"Curo minha dor ajudando outras pessoas", diz pai que perdeu filha afogada em piscina de condomínio

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De acordo com a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), cerca de 6 mil brasileiros morrem afogados por ano. Os números são preocupantes, considerando que em média, a cada 90 minutos um brasileiro morre afogado. O afogamento é a principal causa de mortes de crianças na faixa de 01 a 04 anos de idade. É rápido, acontece em segundos; é silencioso, não há gritos de socorro; é crítico, leva a morte ou invalidez em poucos minutos; mas tem cura, através da prevenção.


Prof. Antônio Santos faz um relato que chega a representar a dor de milhares de famílias, cujas crianças morrem por afogamento. Veja:

"Perdi uma filha em 2010. Ela se afogou em uma piscina. Ela tinha 10 anos, quase 11, e estava em uma festa de aniversário. Eu e minha esposa não estávamos presentes, porque o evento era de amigos no nosso condomínio. Ela ficou presa pelos cabelos no ralo do fundo da piscina.

Minha filha era uma criança que sabia nadar e tinha uma experiência de natação excelente. Temos uma escola de natação, que já existia há uns 15 anos. Ela nadou a vida toda, desde os quatro meses.

Quando a gente soube, ela já estava morta. O afogamento é muito rápido e, se você não age rapidamente na prestação de socorro, não é possível reverter, dependendo do grau de gravidade. Depois do acidente, eu, que já estava na natação há 30 anos, me perguntava o que eu não sabia. Tive muitos cuidados na criação dela e da irmã mais nova: cercava a piscina, estava presente o tempo todo, não as deixava sozinha. Nunca tinha ouvido falar nestes acidentes, especialmente estes em que as pessoas ficam presas pelo cabelo no ralo, como aconteceu com ela".

Antônio é professor de natação e começou a dar aula aos 18 anos. Ao longo da vida, ele também foi jogador de polo aquático. Por nadar em piscinas, ele já tinha experiência com sucção, mas nada tão grave, como o que aconteceu com a filha. Após o acidente, sentiu que precisava fazer algo.

Fui buscar informações e conheci outros casos parecidos com os da minha filha. Conheci uma mulher de São Paulo, ela passou pelo mesmo com com a filha. Ela não morreu, mas entrou em um coma vegetativo e está até hoje, depois de uns 15 anos. Aprendi muito com ela, que também estava em um momento de buscar prevenção para este tipo de acidente — conta.

Nesse momento, Antônio Santos conheceu a Sobrasa e se tornou um membro e conselheiro. Juntos, desenvolveram o programa “Piscina + Segura”, que tem o objetivo de conscientizar as pessoas sobre os perigos de afogamentos e, desta forma, prevenir mortes.

A minha busca foi criar uma maneira de curar a minha dor e ajudar outras pessoas, através do meu trabalho. Hoje, a minha empresa tem 1.200 alunos. Ajudo a espalhar conhecimento, através da Sobrasa, pelo Brasil todo: são 4 mil voluntários, mais de 100 escolas de natação voluntárias e outras 400 que fazem a conscientização, através de atividades de prevenção — diz.

O professor de natação explica que, com cinco medidas, os responsáveis fornecem 95% mais segurança em piscinas. Com atenção integral à criança, presença de guarda-vidas certificados e equipados, preparo para agir em emergências aquáticas, restrição de acesso à piscina com grades e uso de ralos anti-sucção, o número de óbitos e incidentes é reduzido significativamente.



Lei obriga tampa anti-sucção em piscinas
Em setembro 2022, a Sobrasa conseguiu aprovar uma lei pelo Senado, vetada pelo então presidente Jair Messias Bolsonaro. Em vigor desde agosto do mesmo ano, a Lei nº 14.327 foi sancionada em abril e dispõe sobre os requisitos mínimos de segurança para fabricação, construção, instalação e funcionamento de piscinas ou similares.

Entre os dispositivos vetados pelo presidente, estava o que torna obrigatória a instalação de dispositivo, visível e bem sinalizado, para evitar sucção de cabelos ou membros do corpo pelo ralo em piscinas.

Em julho, o veto presidencial foi rejeitado pelo Congresso e, no mês seguinte, o artigo que reforça que equipamentos e medidas de segurança nas piscinas são necessários para evitar acidentes entrou em vigor.

Art. 2º É obrigatório para todas as piscinas e similares, existentes e em construção ou fabricação no território nacional, o uso de dispositivos de segurança aptos a resguardar a integridade física e a saúde de seus usuários, especialmente contra o turbilhonamento, o enlace de cabelos e a sucção de partes do corpo humano”, consta na lei.  

Além disso, a nova legislação define de maneira clara o compartilhamento da responsabilidade por eventuais acidentes. Usuários, proprietários e administradores dos estabelecimentos devem respeitar regras para preservar a segurança do espaço, como pisos antiderrapantes, grades de proteção e placas de sinalização.


Conscientizar para prevenir
Agora aos 64 anos, Antônio Santos deseja conscientizar a população sobre os riscos que piscinas e espelhos d'água podem oferecer e ajudar a prevenir óbitos.
No Brasil, hoje, 15 brasileiros morrem afogados por dia. Se você tiver uma bacia com dez centímetros de água, um tanque, uma máquina de lavar… uma criança pequena que ficar ali dentro pode se afogar. No caso da minha filha, por exemplo, era uma piscina de menos de 20 m2, com pessoas em volta. Na festa, ninguém estava observando nem tomando conta. Quando perceberam que ela estava presa lá embaixo, já era tarde demais. A gente precisa reconhecer o afogado, fornecer flutuação, retirá-lo da água e chamar socorro — detalha.

Além das atividades de voluntários, a Sobrasa promove quatro semanas de conscientização sobre afogamentos em escolas, ao longo do ano, em que ensinam métodos de um auxílio emergencial, a chamar os bombeiros e promovem aulas de natação.
Promovemos a conscientização de forma lúdica com as crianças, com fantoches e mascotes da Sobrasa. Em uma escola de natação, temos de crianças a adolescentes e usamos abordagens específicas para cada faixa etária. A cadeia de prevenção ao afogamento vai desde a conscientização até os primeiros socorros. Precisamos alertar e ensinar as pessoas a prevenir o afogamento. Essa é a melhor defesa contra as mortes — conclui.






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