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A genética e o atleta de elite

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Lebron James, Michael Phelps, Tom Brady, Simone Biles, Katie Ledecky, Usain Bolt. Em comum: superatletas e multicampeões, exemplos a serem seguidos. A certeza é de que ninguém nasce campeão. Mas por que eles se tornaram tão grandiosos? O que faz deles atletas de elite? A ideia geral poderia ser simples: treinamento duro e dedicado!


Será?
Anders Ericsson, um psicólogo e pesquisador sueco, escreveu um trabalho famoso, em 1992, que afirmava que qualquer indivíduo poderia se tornar um expert ou atleta de elite, desde que treinasse deliberadamente suas habilidades por no mínimo 10 anos. Psicólogos definem “treino deliberado” como o processo de aperfeiçoamento de uma habilidade ao extremo. Em resumo, quem treina mais e com qualidade, se torna melhor! Um conceito, muitas vezes, óbvio para treinadores e técnicos. 


Isso reforçava que o caminho para ser um campeão possuía uma cartilha, compartilhada e vendida ao mundo por um outro escritor e pesquisador, Malcolm Gladwell, que alterou a frase de Ericsson para “seriam necessárias 10 mil horas de treinamento deliberado para ser um atleta de elite ou expert em determinada área”. Em seu livro "Outliers", ele trata do assunto com profundidade.




O conceito soa como regra, mas seria essa regra uma verdade?
Quando você trata do conceito em áreas ligadas à educação, como instrumentos musicais e línguas, por exemplo, a teoria se encaixa. Mas, ainda, com ressalvas.

Ericsson se baseou em estudos feitos com violinistas, que mostravam que os músicos para chegarem ao nível mais alto de excelência, tinham que praticar, no mínimo, 10 anos, e que quanto mais novos iniciavam seus estudos, por volta dos 5 anos de idade, maiores eram as chances de êxito. O ponto negativo é que a pesquisa não mencionava aqueles que praticaram por todo esse tempo sem sucesso na empreitada. Mas na área esportiva, no entanto, a banda toca de uma forma diferente!

Ross Tucker, um pesquisador e crítico da “regra das 10 mil horas” afirma que existe uma variação elevada na chance de se ter um impacto do treinamento isolado como responsável pelo sucesso na formação de um atleta de alto nível. Seriam 28% de variância, o que mostra o quão distante, em geral, os seus valores se encontram do resultado esperado, no caso, o de se tornar um atleta de elite. Na área de profissões, por exemplo, a tal regra poderia se aplicar com uma variação de 1%, apenas, o que indica que quanto mais informação e treinamento, menor a chance de erro na obtenção do resultado com sucesso. No aprendizado musical, essa variação também é elevada, em torno de 21%, pra ilustrar que a teoria de Ericsson para instrumentos não era totalmente válida.

Isso mostra que muitos outros fatores podem interferir diretamente neste processo de obtenção de sucesso no esporte, independente do treinamento, colaborando para o aumento da variação na obtenção dos resultados, como os fatores sociais e econômicos, bem como os físicos, como a fisiologia do organismo e a herança genética, por exemplo.

Um bom exemplo fisiológico que apoia Ross Tucker no questionamento da “regra das 10 mil horas” de treino, por si, tem origem na genética. Foi descoberto que a variável que mensura a forma como nosso corpo usa o oxigênio, ou nossa capacidade aeróbica máxima (VO2max), é determinada e influenciada por genes, contabilizando, aproximadamente, 21 variações genéticas de impacto direto na performance.



E o que isso significa?
Quer dizer que se você apresenta 09 ou menos dessas variações genéticas, sua resposta ao exercício será menor, você é uma pessoa menos sensível ao treino, o que resulta numa necessidade maior de tempo de treinamento para obter resultados satisfatórios, e mesmo assim, sem garantias. Seria mais difícil aplicar a “regra das 10 mil horas” a esses indivíduos. Por um outro lado, se você carrega 19 ou mais dessas variações, sua resposta ao exercício é fantástica, e você treina melhor do que a maioria. Assim, poderia se enquadrar com maiores chances na teoria de Malcolm Gladwell.

A história não para por aí. O interessante é que até o ano de 2016, tinham sido computados cerca de 155 marcadores genéticos envolvidos com performance atlética. A última atualização traz tudo em detalhes. Em resumo, por volta de 93 marcadores genéticos estariam relacionados à resistência/endurance física e cerca de 62 genes, ligados à potência e força musculares.

Temos que lembrar que a genética é fortemente influenciada pelo meio em que se vive, assim, fatores como apoio familiar, orientação técnica, situação econômica do indivíduo e condições de treinamento seriam importantes para determinar resultados. Com isso, geralmente, é difícil separar uma coisa da outra de forma tão clara. Como disse o professor Gustavo Simões, você pode ter determinado gene, mas o que você faz com ele é o que importa.

Estudos que focaram nas diferenças e similaridades de performance atlética de membros de mesmas famílias, incluindo gêmeos, sugerem que os fatores genéticos podem fundamentar diferenças nos resultados de 30 a 80% entre os indivíduos nos quesitos atléticos.

Tudo leva a crer que não existe um número mágico de horas que um indivíduo precisa treinar para ser um campeão e que só o treinamento não basta. A combinação entre talento, genética e prática são essenciais para direcionar o caminho para o sucesso.



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