Papo de master – 3 em 1 revezamento - Natação do RN

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o melhor da natação potiguar

Papo de master – 3 em 1 revezamento

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Outro dia eu tinha lido o título de uma matéria que chamava a atenção para a excentricidade que era um atleta dedicado durante anos na natação. O título em si não tinha nada a ver com o conteúdo, era apenas chamativo, como tantos "fake news", sem base científica alguma para comprovar porque o cérebro de um nadador seria tão especial que os demais seres humanos. Balela pura. Somos tão normais quanto qualquer outro jogador de futebol ou de peteca: caímos e nos levantamos, sentimos carências, miramos objetivos, subimos ao pódio e às vezes escorregamos no wc.




É verdade que algumas pessoas desenvolvem um jeito de ser excêntrico, enquanto outras não fazem questão de sua mais profunda modéstia. Já vi recordistas esnobes e também vi quem bateu o recorde dele ser mais humilde ainda. Já vi quem tirou em último lugar na mais alta arrogância e vi quem soube tirar lição de uma final olímpica desastrosa. Existem características de personalidades que são próprias de cada ser humano e praticar natação, ganhar medalha e subir ao pódio não nos torna mais ou menos especial que qualquer outro ser humano, não.

No entanto, copiamos. Nisso somos especialistas: copiar. E quando copiamos num tom distorcido, corremos o risco de fazer toda uma geração escorregar na ignorância. Isso porque na década de 1980, havia um garoto que assistia às olimpíadas na TV e o coitado via aqueles atletas subirem ao pódio com rosto fechado, próprio da época de várias ditaduras pelo mundo, próprio da guerra fria, abrindo um mísero sorriso na hora da foto com a medalha. Então aquele garoto intuiu que quando vencesse uma prova de natação, um grande campeão também devia fazer cara feia em cima do pódio.

É brincadeira?! Até parece. O garoto se tornou um nadador máster e, depois de ter pulado as décadas de 1990 e anos 2000, lá estava ele em meio a uma grande equipe cujo líder tinha uma mania meio estranha de sorrir pras pessoas (...). Foi então que ele encontrou um livro sobre auto-estima em meio à mochila daquele líder e depois que venceu os 200 metros Costas, pegou o livro e jogou na cara do fulano dizendo: "Agora engula! Auto-estima quem faz sou eu dentro da piscina".

Fazendo uma análise regressiva, identificamos uma atitude similar desse máster desde sua época da década de 1980... Ele não conseguia inovar, não conseguia se reinventar ou mesmo reciclar seus conceitos, ao passo que copiava atitudes próprias da guerra fria e da ditadura. Era preciso redobrar a compreensão para alguém que nadava de forma tão esplêndida, que ele mesmo não conseguia amar o que fazia, apenas queria subir ao pódio com aquele sorriso forçado.

Copiar de forma distorcida infelizmente gera esses tipos de disparidades de alguém que poderia demonstrar maior satisfação com sua conquista. Seu exemplo de um grande atleta infelizmente é confundido com uma personalidade estupidamente arrogante.

E se isso acontecesse num revezamento? Uma coisa é o individual numa prova, outra é carregar a responsabilidade de mais outros três integrantes de uma equipe entre a transição e o toque final.

Em 2007, numa competição de jogos internos de uma escola, uma equipe de revezamento foi desclassificada. Os garotos tinham entre 08 e 09 anos de idade e, naturalmente, os pais foram protestar contra a desclassificação com um vídeo gravado da prova. Por regra, vídeos não são aceitos como contestação. Na verdade, todos os garotos cumpriram às regras e não houve nenhuma infração durante as transições. Mas o árbitro que era um dos professores da escola resolveu que a equipe estava desclassificada e pronto. Aquela prova passou despercebida de toda a organização do evento, de modo que era a afirmação daquele professor contra os pais que protestavam. Não teve outra: os garotos foram desclassificados e ninguém soube até então qual o motivo real.

Passar por saia justa assim deve ser horrível. Considere a repercussão negativa na vida futura daqueles quatro garotos que irão crescer com uma referência de insegurança no cumprimento das regras. Aquele professor que estava arbitrando nem se importou com isso, apenas queria vingança. Sim, foi descoberta uma rixa que um dos pais daqueles garotos tinha com aquele professor, desde sua época juvenil. Mesmo contra a verdade em sua própria consciência, aquele professor não hesitou em satisfazer sua vingança usando um falso esteriótipo de arbitragem.




Longe de um assunto de mera auto-ajuda, guardar rancor pode gerar atitudes copiadas que acabam atingindo pessoas que não tem nada a ver com o desejo de vingança. Até certo ponto, psicologicamente vingar-se poderia parecer natural, mas a questão é justamente até que ponto seria natural. Hoje, você perde pro seu adversário, treina mais forte do que ele e amanhã "se vinga" dentro da piscina. Mas quando seu desejo de vingança acaba atingindo a equipe que não tem nada a ver?

Uma coisa bela que existe no esporte é essa dimensão de adversidade transitória, ou seja, seu adversário só se torna seu oponente durante a competição. Fora dela, é preciso manter o respeito e a admiração por todo histórico que cada um carrega. Às vezes, seu adversário pode carregar a mesma dificuldade que você de saber se expressar e reconhecer quando venceu ou perdeu, isso fora da piscina. Nem por isso, deveríamos alimentar fantasmas de que aquele fulano, por ter chegado 05 metros na frente, seria um "super-man" ou, se chegou 05 metros atrás, seria um coitado.

Copiar arrogância é uma das coisas mais fáceis para o ser humano. Num ensaio de teatro, qualquer um se daria bem e passaria no teste. Ir contra a maré, reinventar-se ou reciclar conceito: eis o desafio que sublima nossa característica mais profunda além de qualquer outro animal. Mas considere o contrapeso: Vingar-se do seu adversário é bem diferente de envolver toda uma equipe que não tem nada a ver. Pois, seu adversário poderia ser suportável, mas e se a equipe descobrisse toda a verdade e viesse vingar-se de você?


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